As exportações portuguesas de bens tiveram uma queda homóloga de 3,6% em Maio, enquanto as importações avançaram 1,9%. Miguel Moreira, do Departamento de Estudos do Montepio, refere que depois dos bons resultados até Janeiro de 2013, o saldo comercial tem evidenciado “uma tendência levemente descendente”. Já Filipe Garcia, do IMF, destaca o impacto negativo do encerramento da refinaria da Galp.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio
1. A Balança comercial de bens registou um agravamento do défice em Maio, quando ajustada de sazonalidade, traduzindo acréscimos tanto das exportações, como das importações, mas bem superior nestas últimas. Tratou-se da 1ª deterioração do saldo comercial (de bens), depois de 3 desagravamentos consecutivos do défice, os quais, contudo, também apenas tinham conseguido reverter cerca de 2/3 do agravamento observado nos 2 meses precedentes. Depois da tendência de melhoria que a balança comercial vinha a evidenciar desde 2010 – ainda que com algumas interrupções, como aconteceu na 2ª metade de 2012 –, que a levou a atingir em jan-13 níveis máximos desde ago-96, o saldo comercial passou a evidenciar uma tendência levemente descendente, permanecendo bastante afastado desse máximo histórico (cerca 46.6% abaixo desse nível), não obstante os dados de Fevereiro a Abril terem aparentado querer reverter esta recente tendência levemente desfavorável.
2. Em termos trimestrais, embora ainda sem as leituras de Junho, estes dados do 2ºT2014 evidenciam um desagravamento do défice da balança comercial de bens a preços correntes, sugerindo um contributo (nominal) positivo para o crescimento do PIB neste trimestre. Trata-se de um comportamento que se antevê reforçado no conjunto do trimestre, em termos reais e quando considerados também os dados da balança de serviços (ainda sem qualquer dado), apontando-se para um contributo positivo das exportações líquidas de bens e serviços para o crescimento do PIB, reflectindo um crescimento das exportações superior ao das importações, esperando-se uma recuperação das exportações depois da queda de 1.9% no 1ºT2014 ter sido bastante influenciada pelo facto de a refinaria de Sines da Galp, uma das grandes responsáveis pelo crescimento das exportações, ter estado encerrada para manutenção durante cerca de metade do trimestre (45 dias). Recorde-se que, no 1ºT2014, as exportações líquidas apresentaram um forte contributo negativo de 0.8 p.p. para o crescimento do PIB, pelo 3º trimestre consecutivo e em agravamento (-0.4 p.p. no 4ºT2013), e com este comportamento a resultar de uma queda das exportações (-1.9% vs +0.7% no trimestre anterior) e de uma estabilização das importações (+1.6% no 4ºT2013), estas últimas sendo amparadas designadamente pelo maior consumo de bens duradouros (automóveis).
Filipe Garcia – Informação Mercados Financeiros
1. O relatório sobre o Comércio Externo mostra a importância que apenas dois fatores têm na evolução da Balança Comercial.
2. Por um lado, persistem os impactos da redução de actividade da refinaria de Sines no número trimestral, embora se note já uma recuperação em Maio. Essa oscilação de actividade prejudicou as exportações no trimestre. O outro factor é o peso dos Veículos e Material de transporte, que explica uma parte importante da evolução das importações.
3. Vale a pena ainda destacar os contributos positivos e crescentes das exportações de outros sectores em Maio, nomeadamente Metais, Têxteis e Calçado. O comportamento do Comércio Externo é coerente com uma economia estabilizada, mas sem crescimento relevante.
- Reacção dos economistas: investimento dá sinais de vida - 02/03/2017
- Reacção dos economistas: o contágio para 2017 - 14/02/2017
- Reacção dos economistas: a força das exportações - 15/11/2016