O PIB português cresceu 1,3% no primeiro trimestre de 2013, reflectindo um abrandamento das exportações e um crescimento das importações. A procura interna continua a dar boas notícias, principalmente o investimento, em que o reforço de stocks teve um impacto decisivo.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
Paula Carvalho – Economista-chefe do BPI
1. A economia registou uma queda menos acentuada do que o reportado na estimativa rápida do INE, o que constitui uma boa notícia. Foi um período muito influenciado pela actuação da GALP, com impacto pelo menos nas exportações (vendeu-se menos combustível refinado), nas importações (de combustível refinado em substituição da produção interna e possivelmente de petróleo em bruto, dado que não se interromperam os fornecimentos), e no investimento (com acumulação de stocks muito influenciados pelos produtos petrolíferos, segundo o INE). Sobretudo, deve tentar fazer-se uma leitura sem o ruído destes impactos, que em nosso entender, continua globalmente positiva ainda que muito moderada. Ou seja, não alteramos a previsão de crescimento do PIB de 1% este ano, sendo possível uma revisão em alta dependendo da confirmação de algumas tendências.
2 – Há vários desenvolvimentos favoráveis a destacar: o investimento em maquinaria e equipamento, excluindo automóveis, aumentou em termos homólogos pelo terceiro trimestre consecutivo. Excluindo o contributo da variação de stocks, a procura interna gerou um contributo de 1.2 p.p para o PIB, maior que o contributo do trimestre anterior (0.9 p.p). O consumo de bens correntes não alimentares e serviços, aumentou ligeiramente, interrompendo quedas que se repetiam desde finais de 2010.
3 – Em resumo, importa sobretudo acompanhar a informação relativa ao comércio internacional – até Abril, as exportações de mercadorias excluindo combustíveis aumentaram 4.6% -, as tendências relativas à formação bruta de capital e os índices de confiança de uma forma global. Destacaria recentemente o Indicador de sentimento económico da EU que revela melhorias transversais aos vários sectores; e a aceleração da produção industrial em Abril, traduzindo bons sinais pelo lado dos indicadores da oferta agregada.
Núcleo de Estudos de Conjuntura sobre a Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica
1 – No 1.º trimestre de 2014, a economia portuguesa contraiu 0.6% face ao trimestre anterior, evoluindo abaixo da sua dinâmica recente e interrompendo três trimestres com crescimento em cadeia. Em termos homólogos, o crescimento do PIB manteve-se positivo (1.3%) se bem que em desaceleração face ao 4.º trimestre de 2013 (1.5%). Houve uma ligeira correcção em alta de 0.1 pontos percentuais face à estimativa rápida, muito por efeito de recálculo dos deflactores.
2 – Apesar de globalmente desfavoráveis, estes dados não colocam em causa as perspetivas de recuperação da economia portuguesa ao longo de 2014. O consumo privado regressou ao crescimento trimestral positivo (0.2% ou 0.9% em termos anualizados). Mesmo as exportações, que contraíram 1.9% face ao último trimestre de 2013, o que é preocupante, permaneceram com um crescimento homólogo elevado (4.3%) face às outras componentes da despesa e alinhado com a respectiva média histórica.
3 – O investimento (FBCF) contraiu 4.2% em cadeia o que evidencia a dificuldade deste agregado em abandonar os mínimos históricos observados há exactamente um ano (a variação homóloga foi de apenas 1.7%). Porém, a formação bruta de capital aumentou 1.3% face ao último trimestre na sequência de um aumento expressivo nas existências que contribuíram 1.6 pontos percentuais para o crescimento homólogo do PIB. A evolução do investimento tem, assim, leituras contraditórias mas o NECEP continua à espera de observar a recuperação desta variável nos próximos trimestres.
4 – As importações foram a componente da despesa com maior variação homóloga (8.5%). Em condições normais, este crescimento reflectiria também a recuperação do investimento e do consumo privado mas, no primeiro trimestre, pode ter sido muito afetado pela variação de existências. As necessidades líquidas de financiamento regressaram a um valor ligeiramente positivo também em resultado do mesmo tipo de efeitos pontuais.
5 – A leitura dos dados das contas nacionais trimestrais é dificultada por efeitos de deflatores, de calendário e outros de natureza operacional. Os sinais de crescimento, apesar de ténues são claros, e manifestam-se na evolução do consumo privado. Para além do abrandamento das exportações, as hesitações que o processo de formação de capital fixo continua a evidenciar merecem uma atenção continuada. Serão estes dois agregados que irão condicionar as perspectivas do NECEP sobre a evolução da economia nos próximos trimestres.
Filipe Garcia – Informação Mercados Financeiros
1 – Confirma-se o essencial da estimativa rápida, sendo que se destaca a contracção em cadeia, mesmo que a variação homóloga seja positiva. Segundo o INE, essa contracção teve como origem o abrandamento nas exportações, uma situação que corrobora os indicadores já conhecidos da produção industrial e do comércio externo. Quando se depende mais das exportações para crescer, o PIB pode tornar-se mais volátil por depender mais da procura externa. Por outro lado, no caso concreto de Portugal, a concentração de um grande volume de exportações em algumas grandes empresas faz com que as variações de vendas de uma empresa em concreto tenham grande impacto nos números finais.
2 – Os números também foram desapontantes em alguns países da Europa, nuns casos devido às questões relacionadas com a energia, noutras em reflexo do desempenho da indústria. Mesmo o crescimento na Alemanha de 0.8% teve sobretudo como origem a procura interna e o Inverno pouco rigoroso na Europa e não a indústria ou a procura externa.
4 – Pela positiva há que notar o crescimento da procura interna, o que é um sinal de normalização da economia. Só que, quando a procura interna avança, o mesmo acontece com as importações, prejudicando a balança comercial. Há vários sinais de estabilização da economia portuguesa, mas sem motivos para grandes festejos. Continuamos com a opinião que 2014 será um ano de crescimento, mas muito moderado e dependente da procura externa.
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