Reacção dos economistas: mais pessimismo para 2016

12/02/2016
Colocado por: Nuno Aguiar

Os números do INE apontaram para um crescimento de 1,2% do PIB no quarto trimestre de 2015, uma desaceleração face ao mesmo período de 2014. Este resultado reflecte uma travagem do investimento e contribui para o Montepio rever em alta as suas previsões de crescimento da economia em 2016.

 

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

 

José Miguel Moreira – Montepio

 

1 – Na óptica da procura, o nosso erro de previsão terá ficado a dever-se essencialmente à variação de existências, que terá tido um contributo negativo, em vez do contributo relativamente nulo que estávamos a admitir, com o comportamento das restantes principais componentes do PIB a dever ter sido sensivelmente em linha com o que temos vindo a defender. Este contributo negativo da variação de existências terá mais do que compensado os acréscimos estimados para o investimento em capital fixo e para o consumo privado (de forma meramente marginal), num contexto de uma ligeira queda do consumo público, levando, assim, a procura interna a apresentar uma ligeira contracção, contrariamente à subida que era por nós antecipada, com a economia a ser apenas suportada pela procura externa líquida. Assim, estimamos, como referido, que o consumo privado tenha crescido de uma forma meramente marginal (entre 0.0% e +0.1%), após o acréscimo de 0.5% no 3.º trimestre, com o agregado a dever ter sido suportado no derradeiro trimestre do ano apenas pelas vendas de carros e pelo consumo de serviços, sendo penalizado pelas vendas a retalho. Por sua vez, o investimento em capital fixo (FBCF) terá crescido cerca de 1.0%, revertendo um pouco menos de metade da queda do trimestre anterior (-2.5%), ao passo que a variação de existências terá apresentado um contributo negativo semelhante ao apresentado no trimestre anterior (-0.2 p.p.), levando o investimento total a registar uma ligeira descida, depois de já ter caído intensamente no 3.º trimestre (-3.4%). Já a procura externa líquida contribuiu positivamente para o crescimento em cadeia do PIB, estimando-se um contributo de cerca de 0.3 p.p., ligeiramente inferior ao observado no trimestre anterior (+0.4 p.p.), com estes resultado a reflectir um crescimento das exportações (-2.2% no 3.º trimestre) superior ao estimado para as importações (-2.8% no 3.º trimestre).

 

2 – Para o total do ano de 2015, estes dados do PIB para o 4.º trimestre vieram confirmar a nossa estimativa de uma aceleração da actividade económica, de um crescimento de 0.9% em 2014 para um acréscimo de 1.5%. A actividade económica em 2015 terá sido apenas suportada pela procura interna, reflectindo essencialmente os crescimentos do consumo privado (+2.6%, depois de já ter crescido +2.2% em 2014 e regressado aos crescimentos após três anos em contracção) e do investimento em capital fixo (FBCF) (+4.5%, após +2.8% em 2014 e deixado para trás um ciclo de quedas que se arrastava desde 2009), com o consumo público, por sua vez, a dever ter apresentado um crescimento mais negligenciável (+0.2%, representando o primeiro acréscimo desde 2010). Já as exportações líquidas terão apresentado um novo contributo negativo para o crescimento do PIB em 2015 (-0.9 p.p., depois dos -1.3 p.p. de 2014), traduzindo um crescimento das importações (+6.9%) superior ao das exportações (+5.0%). Note-se, ainda assim, que a recuperação económica tem continuado a ser sustentada pelas exportações, que terão terminado o ano passado 29.2% acima dos níveis pré-programa de ajustamento (2010).

 

3 – Reflectindo designadamente o efeito de carry-over negativo resultante do facto de os dados do PIB aquém do esperado no final de 2015, mas também um enquadramento internacional menos favorável e uma maior pressão dos mercados financeiros sobre a dívida portuguesa, revimos agora em baixa as nossas previsões de crescimento do PIB para 2016, de 2.0% para 1.7%, previsões que, já aquando da saída dos dados do PIB do 3.º trimestre (que tinham dado conta de uma inesperada estagnação da economia), tínhamos referido estar rodeadas de riscos descendentes, tendo então se optado por remeter uma eventual revisão em baixa para aquando da divulgação dos primeiros dados do PIB para o 4.º trimestre de 2015, bem como da apresentação da Proposta de Orçamento do Estado para 2016 (OE 2016) por parte do Governo. Esta nossa previsão de crescimento anual de 1.7% em 2016, que acaba por ficar a meio caminho entre os 1.6% previstos pela Comissão Europeia (CE) e os 1.8% constantes da Proposta de OE 2016 recentemente apresentada, continua a representar uma nova aceleração da actividade económica em Portugal (+1.5% em 2015), contabilizando o 3.º ano consecutivo de crescimento após a saída do país de recessão e ao maior ritmo desde 2010 (+1.9%). A economia deverá voltar a ser suportada apenas pela procura interna, antecipando-se que o consumo privado possa crescer cerca de 2% (Governo +2.4%) e que a FBCF cresça a um ritmo inferior ao que estimamos para 2015 (+4.5%), devendo avançar entre 3% e 4%, enquanto as exportações líquidas deverão ter um contributo sensivelmente nulo, bem como a variação de existências e o consumo público, para o qual se antecipa um crescimento muito baixo.

 

4 – O baixo preço do petróleo, o euro mais fraco e as novas medidas do BCE colocam riscos ascendentes à nossa previsão. Acresce a possibilidade de a economia espanhola poder continuar a crescer acima do estimado, algo relevante atendendo ao elevado peso que ainda tem nas trocas comerciais com o nosso país (não obstante o esforço de diversificação, as exportações ainda estão muito direccionadas para os nossos parceiros europeus, nomeadamente para Espanha – que representaram, em 2015, cerca de um quarto do total das exportações de bens portugueses). Os riscos descendentes a nível interno prendem-se com a instabilidade política, a que acresce a ainda difícil situação do mercado de trabalho, do sistema financeiro, os objectivos de consolidação adicional das finanças públicas e a recente pressão sobre as yields da dívida portuguesa, resultante dos receios dos mercados relativamente à estratégia orçamental do Governo. Externamente os riscos estão relacionados com a incerteza geopolítica no Médio Oriente, no Leste da Europa, em relação à Grécia e devido aos abrandamentos de diversos mercados emergentes, como a China, Angola ou Brasil. Não obstante os riscos externos, admite-se que a actividade na Zona Euro possa acelerar (suportando as exportações) e que, ao nível interno, os maiores receios em torno da situação do sistema financeiro português já se tenham dissipado, a avaliar designadamente pelo comportamento do indicador de sentimento económico, que se encontra relativamente próximo dos níveis máximos desde Janeiro de 2008 (atingidos em Abril) e revelando-se compatível como acréscimos em cadeia do PIB superiores aos por nós perspectivados.

 

NECEP – Universidade Católica

 

1 – No 4º trimestre de 2015, o PIB evoluiu acima da sua dinâmica recente, tendo regressado ao crescimento positivo em cadeia (0.2%) após a estagnação do trimestre anterior. A economia portuguesa apresenta, agora, 9 trimestres sucessivos com crescimento homólogo positivo, o que ilustra a continuação da recuperação, se bem que a ritmo ligeiramente menor (1.2%) que no 3º trimestre desse ano (1.4%).

 

2 – A informação mais preocupante transmitida pela estimativa rápida do INE é a desaceleração do investimento que terá mesmo voltado a contrair em cadeia tal como no 3º trimestre de 2015. As exportações continuaram a crescer no 4º trimestre mas as importações desaceleraram, em parte devido ao comportamento do investimento. Há, pois, que aguardar pela divulgação dos diversos agregados das contas nacionais trimestrais para melhor compreender o que terá ocorrido no final do ano passado.

 

3 – O crescimento da zona euro, divulgado pelo Eurostat, foi de 0.3% no 4º trimestre. Continua a merecer destaque o elevado ritmo de crescimento registado em Espanha, de 0.8% em cadeia e 3.5% em termos homólogos. A Alemanha manteve um ritmo de crescimento moderado e alinhado com a zona euro (0.3%) e França e Itália apresentaram crescimentos marginalmente positivos (0.2% e 0.1%, respectivamente). Confirma-se a recessão na Grécia, com uma contracção homóloga de 1.9%, já que os controles de capital, em vigor desde o verão passado, continuam a condicionar negativamente o investimento, o consumo e as exportações.

 

4 – O crescimento moderado e sem sinais de aceleração da economia portuguesa contrasta com o bom desempenho das economias de Espanha e da Irlanda, igualmente sujeitas a processos de ajustamento no passado recente. O comportamento desfavorável do investimento, que já tinha sido observado no 3º trimestre, é preocupante e pode estar associado a uma conjuntura crescentemente incerta. Para o mesmo efeito também parece ter contribuído o interregno político que se seguiu às eleições de Outubro e, cumulativamente, a incerteza em termos de orientação da política orçamental

 

Nuno Aguiar