O INE confirmou um crescimento da economia de 1,5% em 2015, mais que os 0,9% de 2014, mas um valor abaixo do que se chegou a esperar a meio do ano passado. A economia abrandou no último semestre e isso deve-se em boa medida a um fraco desempenho do investimento, o que causa apreensão aos economistas que contribuem para o Massa Monetária. José Miguel Moreira, do Montepio, a aponta agora para um crescimento de 1,7% este ano, Filipe Garcia, da IMF, espera um crescimento de apenas 1,5%, Paula Carvalho, do BPI, mantém a previsão de crescimento de 2016 nos 1,8%, mas avisa que riscos descendentes sobre este valor aumentaram. O NECEP também sublinha a natureza frágil da recuperação nacional.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
Católica Lisbon Forecasting Lab – NECEP
1. No 4º trimestre de 2015, o PIB cresceu 0.2% em cadeia e 1.3% em termos homólogos. O crescimento anual médio em 2015 ficou-se pelos 1.5%, acima do registo de 2014 (0.9%) mas longe da fasquia dos 2% que os dados do 1º semestre poderiam sustentar sem o abrandamento do 2º semestre.
2. Contudo, o crescimento nominal do PIB foi bastante expressivo, com uma variação homóloga de 3.9% no 4º trimestre e de 3.4% em média anual. Desta forma, o deflator médio do PIB em 2015 ascendeu a 1.9%, um valor elevado que se explica, em grande medida, pelas quedas de preços do petróleo e seus derivados que, via importações, acabaram por penalizar, em termos contabilísticos, o crescimento do produto em volume.
3. O principal sinal de preocupação é oriundo do investimento. Após a queda de 2.7% do 3º trimestre, a FBCF voltou a contrair no 4º trimestre (1.6%) e, agora, também em termos homólogos (0.9%), o que pode reflectir um certo interregno na evolução deste agregado devido ao ambiente de incerteza política.
4. O consumo privado parece ter entrado numa fase de crescimento mais moderado (também 0.2% em cadeia no 4º trimestre) se bem que mantendo ritmos elevados em termos homólogos (2.4%) e em média anual (2.6%).
5. Na vertente externa, após os dados negativos do 3º trimestre, as exportações retomaram uma trajectória de crescimento mais alinhado com a dinâmica instalada mas sem entusiasmos excessivos. As importações também recuperaram se bem que a ritmo inferior em cadeia (0.8%) face ao apresentado pelas exportações (1.5%), o que se explica parcialmente pela quebra do investimento.
6. A balança de bens e serviços voltou a melhorar no 4º trimestre (correspondeu a 1.4% do respetivo PIB nominal) e fechou o ano em terreno positivo (0.8%), o que acontece pelo terceiro an consecutivo (1.0% em 2013 e 0.4% em 2014).
7. Estes dados confirmam a fragilidade da economia portuguesa no limiar de 2016, apesar de não colocarem em causa a continuação da respectiva recuperação. A inesperada contracção do investimento poderá ter sido apenas temporária mas a ausência de uma recuperação robusta e constante neste agregado sinaliza as debilidades do crescimento potencial da economia.
8. Os deflatores do comércio externo continuam a influenciar de forma significativa a interpretação dos dados reais em comparação com os dados nominais, pelo que a incerteza sobre a compreensão da evolução da conjuntura continua a ser muito elevada, para os trimestres mais recentes.
José Miguel Moreira – Montepio
1. A atividade económica em 2015 foi apenas suportada pela procura interna, refletindo essencialmente os crescimentos do consumo privado (+2.6%, depois de já ter crescido +2.2% em 2014 e regressado aos crescimentos após três anos em contração) e do investimento em capital fixo (FBCF) (+3.7%, após +2.8% em 2014 e deixado para trás um ciclo de quedas que se arrastava desde 2009), com o consumo público, por sua vez, a apresentar também um crescimento (+0.8%, representando o primeiro acréscimo desde 2010).
2. O contributo da procura interna para a variação anual do PIB aumentou, situando-se em 2.5 p.p. em 2015 (+2.2 p.p. em 2014), devido ao crescimento mais intenso das despesas de consumo final, uma vez que o investimento desacelerou. Já as exportações líquidas apresentaram um novo contributo negativo para o crescimento do PIB em 2015 (-1.0 p.p., depois dos -1.3 p.p. de 2014), traduzindo um crescimento das importações (+7.3%) superior ao das exportações (+5.1%).
3. A procura externa líquida registou um contributo menos negativo em 2015, passando de -1.3 p.p. em 2014 para -1.0 p.p., refletindo a aceleração das exportações de bens e serviços. Refira-se ainda que se verificou um significativo ganho de termos de troca, com o deflator das importações a registar uma redução pronunciada, em resultado da diminuição dos preços dos bens energéticos. Note-se que, não obstante a nova queda das exportações líquidas em 2015, a recuperação económica tem continuado a ser sustentada pelas exportações, que terminaram o ano passado 29.3% acima dos níveis pré-programa de ajustamento (2010).
4. Refletindo designadamente o efeito de carry-over negativo resultante do facto de os dados do PIB aquém do esperado no final de 2015, mas também um enquadramento internacional menos favorável e uma maior pressão dos mercados financeiros sobre a dívida portuguesa, revimos, aquando da divulgação da estimativa inicial do PIB do 4.º trimestre de 2015, em baixa as nossas previsões de crescimento do PIB para 2016, de 2.0% para 1.7%, previsões que, já aquando da saída dos dados do PIB do 3.º trimestre (que tinham dado conta de uma inesperada estagnação da economia), tínhamos referido estar rodeadas de riscos descendentes, tendo então se optado por remeter uma eventual revisão em baixa para aquando da divulgação dos primeiros dados do PIB para o 4.º trimestre de 2015, bem como da apresentação da Proposta de Orçamento do Estado para 2016 (OE 2016) por parte do Governo.
5. Esta nossa previsão de crescimento anual de 1.7% em 2016, que acaba por ficar a meio caminho entre os 1.6% previstos pela Comissão Europeia (CE) e os 1.8% constantes da Proposta de OE 2016 recentemente apresentada, continua a representar uma nova aceleração da atividade económica em Portugal (+1.5% em 2015), contabilizando o 3.º ano consecutivo de crescimento após a saída do país de recessão e ao maior ritmo desde 2010 (+1.9%). A economia deverá voltar a ser suportada apenas pela procura interna, antecipando-se que o consumo privado possa crescer cerca de 2% (Governo +2.4%) e que a FBCF cresça a um ritmo similar ao de 2015 (+3.7%), devendo avançar entre 3% e 4%, enquanto as exportações líquidas deverão ter um contributo sensivelmente nulo, bem como a variação de existências e o consumo público, para o qual se antecipa um crescimento muito baixo.
Paula Carvalho – Banco BPI
1. A análise do detalhe do andamento da actividade económica ao longo do ano passado mostra factores e evoluções positivas, tais como a tendência das exportações, que se fortaleceu não obstante o pior comportamento de alguns parceiros comerciais importantes – como Angola; ou a estabilização do consumo privado, que se assume de novo como um dos pilares da recuperação económica sem com isso pôr em causa a trajectória de desalavancagem das famílias, que prossegue; ou o ganho dos termos de troca, fruto em grande parte da queda dos preços do petróleo, possibilitando um ganho significativo do PIB nominal – 3.4% no ano, o nível mais elevado desde 2007.
2. Todavia, pela negativa pontua o comportamento da formação bruta de capital fixo – investimento excluindo a componente de variação de stocks -, que registou uma significativa desaceleração nos últimos seis meses do ano, tendo mesmo caído em termos homólogos no 4º trimestre. A análise desta componente da procura agregada é ainda mais preocupante quando analisada ao detalhe, pois esta evolução ocorreu num contexto de recuperação do investimento em construção, ficando a dever-se em exclusivo à queda do investimento em Maquinaria e Equipamento. Se no curto prazo esta evolução significa menor crescimento da procura interna, a médio/longo prazo põe em causa a reposição e expansão da capacidade produtiva, logo, a criação de emprego.
3. Destaque ainda para a componente de Despesa Pública, que registou uma variação positiva em 2015, de +0.8%, interrompendo uma sucessão de 5 anos de queda da despesa pública (em volume). Esta evolução está em linha com as conclusões da análise de evolução do saldo público estrutural em 2015, que reflecte a interrupção do pendor restritivo da política orçamental no ano passado.
4. O comportamento da actividade ao longo de 2015, designadamente a tendência de desaceleração da taxa de crescimento homóloga do PIB no 2º semestre bem como a quebra do investimento, aliados ao sentimento global mais negativo em inícios de 2016, aumentam os riscos negativos da nossa projecção de crescimento do PIB para este ano: +1.8%.
Filipe Garcia – Informação e Mercados Financeiros
1. Os números confirmam a desaceleração do investimento, o que mostra preocupação com o futuro por parte dos agentes económicos. Como um todo, o crescimento em cadeia [do PIB] mostra alguma desaceleração da economia.
2. Basta que o consumo interno fraqueje, o que pode acontecer por questões de confiança, rendimento e crédito disponível, e as previsões do OE 2016 ficam em risco.
3. As trocas com o exterior continuam a ter um impacto positivo na economia, mas há que monitorizar os riscos da desaceleração europeia, nomeadamente de Espanha, bem como os preços do petróleo.
4. Para 2016, pensamos que o PIB poderá crescer, no máximo, 1.5%, mas vamos rever estas estimativas tendo em conta os novos dados agora conhecidos.
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