Rajoy e não só: destruir credibilidade para derrubar a crise

02/01/2012
Colocado por: Rui Peres Jorge

 

Mariano Rajoy em Campanha, em Valência a 13 de Novembro Fonte: Denis Doyle/Bloomberg

 

Lá por se estar a tornar um hábito europeu, não deixa de impressionar: os líderes europeus insistem em autodestruir a sua credibilidade para derrubarem a crise. Rajoy, em Espanha, é o último exemplo: contra tudo o que havia prometido em campanha eleitoral, anunciou na sexta-feira um aumento da tributação sobre o rendimento, entre outras medidas de austeridade. Mas o Executivo garante: subidas de IVA, nem pensar. Promessa de primeiro-ministro.

 

O El País não é meigo: Zapatero demorou seis anos a dar uma volta de 180 graus face a tudo o que havia prometido aos espanhóis, Rajoy demorou seis dias, escreve o diário espanhol, que lembra que na última quarta-feira o primeiro ministro havia voltado a prometer que não subiria impostos. A mensagem era aliás de os baixar assim que fosse possível.

 

A justificação para a reviravolta é a habitual: o défice orçamental derrapou, devendo chegar aos 8% do PIB, trocando as voltas ao primeiro ministro e ao ministro das Finanças. Só que, como escreve o El País, todos em volta de Rajoy falavam dos 8% bem antes das eleições.

 

Para os que encontram semelhanças com o caso português – Passos Coelho prometera, por exemplo, não cortar salários – vale a olharem para o resto da história espanhola: 1) As contradições são concertadas com a Comissão e com a Alemanha (esperando, imagina-se, uma palavra de apoio de Angela Merkel, como Portugal conseguiu) 2) o Governo decide em antecipação a um Ecofin (o próximo é a 20 de Janeiro) procurando trocar puxões de orelhas por palmadas nas costas, uma prática em Sócrates e os restantes primeiros-ministros de países resgatados se tornaram exímios; 3) o discurso oficial é acompanhado pela garantia de que as contradições colocam o País “à frente da curva”, antecipando as dificuldades que os mercados venham a colocar.

 

No meio de uma crise de confiança que a maioria concorda que demorará anos a resolver, vários líderes políticos insistem em destruir capital de credibilidade logo que chegam ao poder. Como é que este desempenho poderá criar confiança a médio prazo nos mercados e nos agentes económicos é difícil perceber. Desconhecido é também o preço a pagar a prazo na relação entre eleitores e partidos. Mas a conta chegará. Até lá, fica a promessa: em Espanha, o IVA não subirá…

Rui Peres Jorge