Martin Feldstein escreve no Project Syndicate acerca do plano europeu para monitorizar os défices estruturais, limitando os saldos negativos a 0,5% do PIB. O título da peça era “How to Create a Depression”. A Grécia, cuja economia deve perder mais de 12% do seu volume em apenas quatro anos, é o exemplo mais claro. E em Portugal?
Um dado revelador é a evolução do investimento (formação bruta de capital fixo) nos últimos anos, que não tem parado de cair. Mas os números ficam ainda mais curiosos quando à acumulação anual de investimento (o fluxo que se acrescenta ao stock já existente) é deduzida a depreciação do capital existente (o chamado consumo de capital fixo). O saldo líquido, medido em percentagem do PIB, tem evoluído mais ou menos desta forma.
A redução abrupta do investimento já era óbvia desde há algum tempo. O que esta imagem põe em evidência é o efeito que a diminuição da procura está a ter na própria oferta da economia. Segundo os números do INE, o ritmo de desgaste do capital já é superior ao ritmo a que ele é acumulado, diminuindo assim o próprio produto potencial – o “supply side” onde as reformas estruturais supostamente actuam.
E, por falar em questões estruturais, é também interessante passar os olhos pelas previsões do Memorando de Entendimento (página 27). Apesar de projecções de longo valerem o que valem, não deixa de ser revelador que só em 2016 o “output gap” (diferença entre o PIB efectivo e o potencial) seja praticamente eliminado. Mas numa altura em que a taxa de desemprego continua acima dos 10% da população activa.
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