Quem perde com a reestruturação grega?

27/05/2011
Colocado por: Rui Peres Jorge

O cenário de algum tipo de reestruturação da dívida pública grega parece já quase certo. Para efectivamente aliviar o país, o “haircut” a aplicar teria de ser significativo. Admitamos que é de 40% a 50%. Quem perde quanto?

 

 

Fonte: Jock Fistick/Bloomberg (José Manuel Barroso; Angela Merkel; George Papandreou; Nicolas Sarkozy; Herman Van Rompuy; Jean-Claude Trichet) 

 

O Negócios de hoje tem algumas das respostas que vamos aqui sintetizar, acrescentando mais alguma informação.

 

Três pontos prévios:

 

1) Vamos considerar como perdas apenas as sofridas directamente pelos detentores de dívida pública grega.

 

2) É claro que em caso de “default” poderá haverá muitas outras perdas (nomeadamente as que resultam do abrandamento da actividade económica). Especialmente se o incumprimento não for ordeiro.

 

3) Neste caso, muitas más notícias para a banca nacional: em termos de peso no PIB, o sistema financeiro português é recordista em exposição à economia grega – sete mil milhões de euros ou 4,2% do PIB (em segundo lugar nesta escala está a França com 2,1% do PIB que 40 mil milhões de euros). Para este resultado contribui o facto do BCP ser dono de um dos maiores bancos gregos.

 

Com um incumprimento de 40% na dívida grega, quem perde?

 

Em primeiro lugar perde o BCE. Segundo contas da JP Morgam (mérito do FT Alphaville), considerando as obrigações que o BCE comprou da dívida grega e os activos que aceitou como colateral garantidos pelo Estado grego, um “haircut” de 50% na dívida grega implicaria perdas para o banco central de Frankfurt de 35 mil milhões de euros.

 

É muito ou é pouco? Bom, é tanto como as perdas de todos os bancos europeus juntos.

 

Um outro trabalho da Goldman Sachs (obrigado ao Emanuel pela chamada de atenção) estima as perdas para os bancos europeus de uma reestruturação e explica o que poderá ser interpretado como uma dívida de gratidão dos muitos bancos europeus para com a instituição liderada por Jean Claude Trichet.

 

Greek restructuring: €13-41 bn capital hit We estimate that a 20%-60% haircut of Greek sovereign paper corresponds to an aggregate European bank capital hit of €13-41 bn. In the context of the sector aggregate, this is small and represents only 1%-3% of total Tier 1 capital. But for Greek banks we estimate the impact would be €8-25 bn or 26%-80% of total Greek bank capital and 50%-160% of current market cap. In our view, Greek banks would realistically require substantial additional capital to cover for incremental losses from a theoretical restructuring.

 

Ou seja, contas grosseiras apontam para que um haircut de 50% implique perdas na ordem dos 34 mil milhões de euros para a banca europeia. Ou seja menos que os 35 mil milhões de perdas esperados para o BCE (estas contas dão alguma perspectiva à história de horror de Christian Noyer). É também aqui que chega a dívida de gratidão:

 

ECB disintermediated periphery banks. By extending €91 bn of refinancing facilities to Greek banks (and a further €153 bn to Portuguese and Irish banks) the ECB has effectively disintermediated the ‘core’ banks from the periphery. As a consequence, the knock-on effects of a restructuring would be milder for European banks today than, say, just last year 

  

Portugal poderá esperar perdas de cerca de 400 milhões

 

O mesmo artigo os economistas da Goldman Sachs estimam as perdas associadas a um “haircut” de 40% na dívida grega para cada banco europeu (e repete o exercício para haircuts à divida irlandesa e portuguesa). 

 

Como se pode ver na tabela abaixo, Portugal é o sétimo país europeu mais expostos à dívida pública:

 

  

 

Ao todo são 1,3 mil milhões de euros, divididos entre BPI (500 milhões), BCP (700 milhões) e CGD (100 milhões). Desta exposição decorrem perdas potenciais de 400 milhões de euros, como mostra o quadro abaixo. Portugal seria, neste cenário, a sexta economia mais afectada.

 

 

nas contas do banco norte-americano, as perdas totais para a banca europeia ascenderiam de 26,9 mil milhões de euros… mas 60% ficariam dentro da própria Grécia.

 

Para quem tiver curiosidade sobre os bancos mais expostos, aqui fica a lista (página 12 do relatório da GS): BCP é o 23º, BPI o 29º e CGD o 46º.

 

 

 

Rui Peres Jorge