Fonte: Wolfgang von Brauchitsch/Bloomberg News, Jean-Claude Juncker, presidente do eurogrupo, numa reunião em 2008
Segundo a Reuters, o casal Merkozy estará a discutir a possibilidade de partir a Zona Euro e avançar com uma união monetária a duas velocidades. A opção, ainda que considerada distante pela maioria, tem vindo a merecer atenção crescente nos meios intelectuais.
Como comentava há uns dias um quadro comunitário ao Negócios, uma saída de qualquer país da Zona Euro só acontecerá quando ou os governos do euro, ou o país, ou o BCE concluírem que não têm mesmo outra saída para a crise. As razões são naturalmente políticas, mas também muito práticas: os actuais níveis de endividamento intra Zona Euro (infografia do New York Times a não perder, via Baseline Scenario) implicariam perdas demasiados elevadas e arriscadas. E é por isso que, por enquanto, as fugas de informação de Merkozy parecem mais uma resposta/ameaça à revolta dos devedores que os gregos podem representar, como bem vincou Gros.
Ainda, assim, dado o assustador avanço da crise da dívida soberana, que esta semana pôs de joelhos a Itália – com mais dívida que todos os outros periféricos juntos – o cenário de desmoronamento da Zona Euro nunca esteve tão próximo. E com ele têm surgem várias propostas, de natureza muito diferente, para um reforma radical da Zona Euro. Vale a pena olhar para elas:
a) Há uns dias, como aliás aqui salientámos, Harold James, reputado historiador económico que acompanha de perto a UEM, chamou a atenção para a possibilidade de permitir à Grécia a reintrodução de dracmas para uso interno, mantendo o euro para grandes transacções e para transacções internacionais. O historiador refere exemplos bem sucedidos no passado para este tipo de arranjo monetário. James não clarifica se a excepção seria apenas para a Grécia e, se não fosse, quem seria o banco central das novas moedas reintroduzidas nos vários países. Outros já defenderam uma variante desta ideia: uma Zona Euro com duas moedas (euro-forte, euro-fraco). Uma boa exposição foi feita em Fevereiro de 2010, por Michael Arghyrou e John Tsoukalas: nesta proposta os dois euros (forte e fraco) seriam geridos em Frankfurt, pelo BCE.
b) Uma outra proposta, apresentada esta semana no VoxEU.org, está mais na linha do castigo/ameaça de Merkozy sobre os países mal comportados (do Sul, supõe-se). Christian Fahrholz e Cezary Wójcik, de duas universidades alemã e poloca, defendem que a Zona Euro avance já com regras claras para expulsões da Zona Euro. Por um lado, defendem, este mecanismo seria a única arma de pressão eficaz para os países que hesitem nas reformas que têm a fazer. Por outro lado, ajudaria os governos dos países mal comportados a convencer os seus cidadãos das reformas que têm de aceitar. Finalmente, a existência deste mecanismo, argumentam, reduziria a incerteza que está a tomar conta dos mercados visto que, neste momento, todos temem que a Zona Euro quebre, mas ninguém sabe como é que tal acontecer.
c) A equipa anti-neo-liberal do Research on Money and Finance, da Universidade de Londres, que vem sendo uma das vozes mais críticas da Zona Euro e da forma como os 17 governos (em especial os do centro) têm gerido as dificuldades, publicou esta semana o seu último relatório sobre a crise no euro onde defende, sem reservas, a saída da Grécia da união monetária, por sua escolha, e com uma reestruturação da dívida nos termos que democraticamente entender fazer (este incumprimento liderado pelo devedor surge como oposição a uma reestruturação/saída do euro liderada pelos credores). Os economistas do RMF argumentam que os custos da saída (falência de bancos, disrupção momentânea de circulação de moeda e de participação nos mercados cambiais e de exportação) serão menores que os de ficar preso a uma situação de empobrecimento gradual e contínuo do país, que, argumentam, decorrerá inevitavelmente da permanência na Zona Euro e das politicas de austeridade em curso.
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