Portugueses começam 2013 menos confiantes

30/01/2013
Colocado por: Rui Peres Jorge

A Comissão Europeia deu hoje conta de uma ligeira queda na confiança dos portugueses. Os economistas do NECEP da Universidade Católica analisam os dados da Comissão evidenciando que o efeito “regresso aos mercados” ainda não terá sido capturado. José Miguel Moreira, do Montepio, diz que o efeito era esperado dado o impacto previsível do OE 2013.   

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

 

Núcleo de Estudos de Conjuntura da Economia Portuguesa

 

1. Em janeiro de 2013, o indicador de sentimento económico de Portugal (ESI-Portugal) atingiu 79.2 registando uma ligeira descida de 0.9 pontos face aos 81.1 observados em dezembo de 2012, evoluindo abaixo da sua dinâmica recente. Esta descida foi transversal aos diferentes sectores da atividade económica, mas a confiança dos consumidores subiu 0.6 pontos de -57.1 para -56.5.

 

2. Apesar de tudo, os dados não trazem novidades substanciais face a dezembro: os índices de confiança mantêm-se acima dos patamares registados entre setembro e novembro, mas o seu valor absoluto permanece em níveis extremamente baixos (abaixo da média histórica e consistentes com um quadro de contração na economia). Deve notar-se que os dados de janeiro não refletem ainda eventuais impactos da recente emissão de obrigações da dívida pública portuguesa e da descida das taxas de juro implícitas da dívida (tipicamente os dados mensais são recolhidos antes de meados do mês). Assim, será interessante continuar a acompanhar a evolução do indicador de sentimento económico de Portugal nos próximos meses.

 

José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do BPI

 

1. O indicador de sentimento económico (ESI), calculado pela Comissão Europeia (CE), registou uma descida em janeiro, revertendo menos de metade do que havia subido nos dois meses anteriores, embora depois de estas duas subidas no final de 2012 também não terem conseguido recuperar totalmente das mais intensas quedas observadas em setembro e outubro, que haviam levado o sentimento económico do país a passar, em apenas dois meses, de um valor máximo desde outubro de 2011 para um mínimo desde abril de 2009. Note-se que o indicador tinha vindo a evidenciar uma tendência positiva (de alívio) desde dezembro de 2011, após em novembro ter estado em mínimos desde abril de 2009, tendo apenas registado 4 descidas desde essa altura, mas com as duas quedas de setembro e outubro a serem as mais acentuadas, sendo assim de certa forma aceitável as subidas evidenciadas de novembro e dezembro. Refira-se ademais que apenas no auge da Grande Recessão Global o ESI apresentou valores inferiores aos evidenciados em outubro e novembro.

 

2. Esta descida mensal do sentimento económico no arranque do ano refletiu um comportamento maioritariamente desfavorável das suas componentes, com os alívios da confiança dos consumidores e nos serviços a serem mais do que anulados pelos agravamentos registados na indústria, na construção e no comércio a retalho. Note-se que, com estas subidas, a confiança nos serviços (o mais representativo) e a confiança dos consumidores registaram ambas as suas terceiras subidas consecutivas, porém depois de terem sido das mais penalizadas nos já referidos meses de setembro e outubro, não sendo possível deixar de associar aquelas fortes quebras de confiança (agora ligeiramente corrigidas) aos anúncios de novas medidas de austeridade para 2013 que foram sendo realizadas pelo Governo ao longo do mês de setembro e concretizadas na Proposta de Orçamento de Estado para 2013 (OE 2013) já em meados de outubro.

 

3. Em termos trimestrais, e de acordo com os cálculos do Montepio, o ESI encontra-se em níveis consistentes com quedas trimestrais do PIB de 0.8% no 1ºT2013 e de 0.9% no 4ºT2012, depois do PIB já ter caído 0.9% no 3ºT2012. Trata-se de resultados relativamente em linha com as nossas perspetivas para 4ºT2012, com o nosso indicador compósito para o PIB português a apontar para uma contração trimestral no 4ºT2012 em torno de 1%, em natural agravamento, refletindo o já referido anúncio de um novo conjunto de fortes medidas de austeridade para 2013 – que representam um enorme aumento da carga fiscal, com destaque para a redução do número de escalões de IRS e para a aplicação de uma sobretaxa de IRS –, medidas que acabaram desde logo por se começar a refletir na confiança e atitude dos agentes económicos. Já para o 1ºT2013, o nosso cenário central aponta para uma queda trimestral do PIB ligeiramente inferior (na ordem de -0.5%), embora seja de realçar o facto de a informação disponível sobre o comportamento da economia neste arranque de ano ser ainda muito escassa.

Rui Peres Jorge