Paul De Grauwe, professor na Universidade Católica de Leuven, especialista em economia monetária e uma autoridade na análise da Zona Euro, avalia em entrevista ao Negócios publicada hoje a sucessão no BCE. Não esconde desilusão pelos últimos dois anos de Trichet no combate à crise de dívida soberana e incentiva Draghi a ir mais longe.
O que destaca como melhor e pior de Trichet?
Eu era um fã de Trichet até à crise de dívida pública, na qual acho que deitou tudo a perder. É claro que ele não é o único responsável: ele não controla o BCE, nem o conselho de governadores. Mas era difícil ter gerido pior esta crise.
Porquê?
Por exemplo: se decidiram comprar obrigações, então essa decisão deveria ser comunicada da forma correcta. Quando se decide ir para guerra, não pode haver hesitações, e tem que se dizer ao mercado que se está disposto a usar toda a capacidade financeira para estabilizar o mercado. Não se pode dizer, como o BCE fez, que se entra em guerra, mas sem vontade, e que pararemos logo que seja possível. E o paradoxo é que, ao fazê-lo assim, o BCE acabou por ter de comprar mais dívida publica do que se tivesse sido convincente na sua intenção logo desde início.
De Grauwe insiste que só o BCE pode salvar o euro e mais à frente urge Draghi a comprar a guerra dentro do BCE:
Draghi terá que arriscar um pouco, pôr cabeça de fora e tentar puxar o conselho de governadores nessa direcção. Mesmo que haja uma minoria significativa contra, tem de pressionar e fazê-lo. Com o sucesso os opositores vão acabar por se silenciar. É claro que é difícil para ele, sendo italiano. Imagine que ele chega ao BCE e diz: “Tenho uma grande ideia! – vamos comprar obrigações italianas”.
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