Americanos escolhem dar mais poder ao Estado
Fonte: Bloomberg
Nestas eleições, os Estados Unidos discutiram aquilo que Portugal se prepara para debater nos próximos meses: que funções deve o Estado desempenhar e que peso deve ter na economia? O contraste entre Mitt Romney e Barack Obama foi claro ao longo da campanha e a reeleição do democrata aponta para uma preferência de ter “mais Estado”.
O primeiro mandato de Obama arrancou com a maior crise financeira desde a Grande Depressão e obrigou o Presidente a colocar o Governo Federal no centro da recuperação da economia, transferindo algum do poder de Wall Street para Washington. A vitória de ontem assegura a preservação e continuação de algumas dessas políticas. A reforma do sistema de saúde – Obamacare – é para ficar, tal como uma regulação mais apertada do sector financeiro. Os norte-americanos mais ricos vão pagar mais impostos.
O “Sr. euro” é Draghi, pelo menos para os EUA
Número de contactos entre Timothy Geithner e responsáveis envolvidos na crise Europeia entre Janeiro de 2010 e Junho de 2012
Fonte: “Tim Geithner and Europe’s phone number”, Jean Pisani-Ferry
“Para quem é que ligo, se quiser ligar para a Europa?” A pergunta retórica que é atribuída a Henry Kessinger – celebrizada por ilustrar da dificuldade de articular posições com a Europa – é finalmente respondida por Jean Pisani-Ferry, num “post” publicado recentemente no Bruegel, o think-tank que dirige. Uma análise aos registos de contactos (telefónicos e reuniões) entre Timothy Geithner, o secretário do Tesouro dos EUA, e vários responsáveis políticos envolvidos na crise europeia (entre Janeiro de 2010 e Junho de 2012), revela como o problema foi resolvido pelo actual governo norte-americano: Geithner ligou para mais de uma dezena de pessoas. Entre elas destacam-se a liderança do FMI (114 contactos), seguida dos presidentes dos BCE Trichet/Draghi (58 contactos). Schauble foi contactado apenas 36 vezes. E Van Rompuy é quase ignorado, mostram as conclusões de Pisani-Ferry.
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Multiplicador é o que um economista quiser
Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI, assinou a avaliação do FMI aos multiplicadores orçamentais Fonte: Stephen Jaffe Bloomberg
A polémica em torno dos multiplicadores orçamentais – ou seja, da estimativa do custo da austeridade no crescimento – não parece ter fim. O último desenvolvimento foi uma dura resposta da Comissão Europeia às contas do FMI. Para Bruxelas um euro de austeridade rouba menos de um euro ao crescimento, defendeu esta semana, deixando críticias metodológicas ao estudo de Washington. Para o debate em Portugal isso significa que o multiplicador orçamental que Vítor Gaspar diz estar implícito no Orçamento (0,8 pontos) é até superior ao de Bruxelas (entre 0,5 e 0,7 pontos). É caso para dizer que o multiplicador é o que um economista quiser.
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Estudo da Economia precisa de mudar radicalmente
O Vox está a promover há algum tempo um debate sobre para que serve a economia e o que deve mudar no seu ensino. A este respeito, vale a pena ler um texto de Alan Kirman, Professor da Universite Paul Cezanne in Aix-en Provence. Algumas ideias: em vez de assumirem que a economia está naturalmente em equilíbrio e que por vezes é abalada por choques externos, os economistas deveriam admitir que “podem estar a lidar com um sistema que se auto-organiza e que, de tempos a tempos, experimenta grandes e rápidas mudanças”. No ensino da ciência, os economistas “deveriam gastar mais tempo a insitir na importância da coordenação como o principal problema das economias modernas, em vez da eficiência”. E, finalmente, “todos deveríamos lembrarnos de que o actual pensamento económico será um dia ensinado como história do pensamento económico”. Além disso, estamos também a ler:
2. 1892. A História é boa companheira em momentos históricos. Pedro Lains contribuiu revisitando a grande crise de pagamentos portuguesa do final do século XIX. Vale também a pena ler um exercício que fez há um ano sobre as necessidades de financiamento externo português: a crise dos 30?.
3. Spain's bad bank lures investors with steep discounts. A Reuters dá conta de como o banco central espanhol planeia que o “bad bank” do país (que comprará aos bancos os maus créditos nos balanços) consiga captar o interesse de investidores privados. Os retornos podem chegar a 15%, diz o Banco de Espanha. A entrada de investidores privados é essencial para que o “bad bank” possa ficar fora das contas públicas.
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Draghi em entrevista para alemão ler
Mario Draghi à esquerda com Norbert Lammert, president of the Bundestag, em frente ao Reichstag, o Parlamento alemão, que o Presidente do BCE visitou a semana passada Fonte: Michele Tantussi/Bloomberg
Mario Draghi, o presidente do BCE, não dá muitas entrevistas. Esta semana foi uma rara oportunidade de o ler nesse registo. Sem surpresa, a entrevista foi concedida a uma revista alemã (Der Spiegel) e é, pelas perguntas e respostas, uma conversa para “alemão ler”: está lá o receio da inflação, o controlo sobre o desregramento orçamental do Sul, os riscos para a independência do BCE do novo programa de compra de obrigações, os embates com Weidmann (o presidente do Bundesbank), as taxas de juro baixas demais na Alemanha, e até o quanto Draghi gosta de passear nos museus de Frankfurt. Escolhemos aqui algumas passagens que podem ser relevantes para Portugal.