Os últimos dados do INE mostram um cenário absolutamente desolador no mercado de trabalho português, com a maior destruição trimestral de emprego desde a chegada a troika a Portugal e um novo máximo de 16,9% da taxa de desemprego. Em apenas três meses, desapareceram 125 mil postos de trabalho. O fenómeno foi transversal a quase toda a sociedade, com algumas excepções. Uma delas é especialmente interessante de analisar: o número de empregos ocupados por quem tem mais de 45 anos e está integrado nos quadros da empresa aumentou ligeiramente no último trimestre de 2012, face ao mesmo período do ano anterior (0,2%). Este segmento representa um terço da totalidade do emprego por conta de outrem.
Esta variação contrasta claramente com o que se passou nas outras faixas etárias ou nos contratos a prazo. Avançando por partes: a destruição de emprego entre contratos sem termo foi cerca de metade da registada entre os contratos com termo, 4,6% contra 9,1%. É o primeiro (e compreensível) fosso. O nível de protecção contra o despedimento é muito maior no caso dos primeiros, fazendo com que as empresas hesitem em despedir quem está no quadro.
No entanto, mesmo para os que estão no quadro, existem claras diferenças. Como já se referiu, entre quem tem uma idade superior a 45 anos, o emprego cresceu 0,2%. Em sentido contrário, entre os 35 e os 44 anos caiu 4,2%, entre os 25 e os 34 contraiu 10,8% e quem tem menos de 25 anos viu serem destruídos 14,5% dos postos de trabalho com contrato sem termo. Normalmente, quanto mais jovem, menor é antiguidade na empresa, o que faz com que seja mais barato despedir.
Entre os vínculos com termo definido, o cenário é semelhante, embora mais negro. Aqui, o emprego ocupado por pessoas com idade superior a 45 anos teve uma variação negativa de 2,4%. Entre os 35 e os 44 caiu 10,4%, dos 25 aos 34 recuou 12,6% e até aos 24 anos afundou 17,3%. Contracções não tão díspares mas, ainda assim, muito diferentes.
A idade e o tipo de vínculo surgem assim como variáveis profundamente influentes na situação de emprego no último ano. Existiram claramente duas narrativas no mercado de trabalho português: um terço do emprego por conta de outrem – mais de 45 anos e no quadro – aumentou ligeiramente (0,2%); e os restantes dois terços afundaram significativamente (-8,1%).
Como nota final, de referir que existe um terceiro vínculo que merece ser analisado. No último ano, o emprego a recibos verdes aumentou 2%. Foi o único tipo de vínculo onde houve criação de emprego jovem. Uns promissores 0,9%.
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