O que vale mais meia hora?

28/10/2011
Colocado por: Pedro Romano

O “game changer” que o FMI propôs (descida da TSU) foi substituído por uma medida de efeitos mais limitados (mais meia hora de trabalho por dia). A justificação oficial de Vítor Gaspar, elaborada em entrevista recente ao Negócios, é que “a medida (…) é particularmente importante para os sectores da indústria transformadora, para exportadoras, para actividades que, em Portugal, se possam expandir, neste período, porque podem responder à procura externa”. Mas os resultados do inquérito de conjuntura publicado ontem pelo INE parecem dar razão aos que se têm mostrado cépticos em relação à medida.

 

O diagnóstico de Gaspar parece estar enviesado em pelo menos dois pontos: 1) De acordo com o INE, não há, ao contrário do que é pressuposto pelo Ministério das Finanças, empresas da indústria transformadora a trabalhar próximo dos limites da capacidade (em média, pelo menos). A taxa de utilização da capacidade instalada foi de 74,5% em Setembro, em linha com os valores dos meses anteriores; 2) As próprias empresas dizem que o principal obstáculo à produção é a falta de procura, bem longe de qualquer outro tipo de constrangimento.

 

 

Se a procura externa relevante não melhorar (cenário plausível nesta altura), aumentar as horas trabalhadas pode inclusive ter como efeito principal permitir dar resposta às encomendas com um menor número de trabalhadores, criando pressões para o aumento do desemprego no próprio sector exportador. Durante o período mais agudo da crise económica, algumas das soluções negociadas na Alemanha consistiram, aliás, numa política precisamente simétrica, em que se reduziam as horas trabalhadas para impedir despedimentos.  

 

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