O que está a empurrar Obama e republicanos para o ‘precipício’…

28/12/2012
Colocado por: Nuno Aguiar

Boehner foi desautorizado pela sua própria bancada quando propôs mais impostos para milionários. Fonte: Andrew Harrer/Bloomberg

  

… é deixar a taxa marginal de IRS subir para os 39,6% para norte-americanos que ganhem mais de 400 mil dólares por ano (300 mil euros). Claro que existem outros pontos de discórdia, como a generosidade dos apoios sociais, mas é aqui que está centrada a discussão: cobrar aos mais ricos aquilo que Clinton cobrou entre 1993 e 2001.

 

Durante a Administração de Bill Clinton, a taxa mais baixa de IRS estava nos 15%, enquanto a mais elevada era 39,6%. Dois mandatos de George Bush e um pacote ambicioso de cortes de impostos mais tarde, Barack Obama herda uma taxa marginal de 35% e uma taxa mínima de 10%. Com a aproximação da data de validade destas reduções de impostos – 31 de Dezembro -, a proposta inicial do Presidente dos Estados Unidos era manter a carga fiscal para todos os escalões de rendimentos, excepto para o superior, em relação ao qual se permitiria um regresso à taxa cobrada por Clinton (os tais 39,6%). Esse escalão seria fixado nos 250 mil dólares (190 milhões de euros).

 

Apenas como referência, em 2000 a taxa máxima de IRS em Portugal estava nos 40%. Em 2013, para quem ganha mais de 150 mil euros, estará nos 54%.

 

Na última semana, Obama recuou e já admitia que apenas quem ganhasse mais de 400 mil dólares seria incluído no último escalão de 39,6%. Republicanos chumbam. John Boehner, líder dos conservadores no Congresso, tenta ganhar vantagem negocial sobre Obama e propõe aos seus congressistas que esse aumento seja apenas para contribuintes com rendimentos superiores a um milhão de dólares. Republicanos chumbam a proposta da sua própria liderança. A franja mais radical, nascida da emergência do Tea Party, não aceita agravamentos fiscais para nenhum americano. Mesmo os milionários. Exigem antes uma solução que passe por cortes na despesa do Estado, principalmente em alguns dos programas sociais.

 

Esta intransigência já começa a prejudicar o GOP (Grand Old Party) nas sondagens. A maioria dos norte-americanos considera que, caso não haja acordo, a culpa pertence aos republicanos. Daí que alguns analistas tenham começado a sugerir que Obama deixe a economia cair no 'precipício orçamental' de 1 de Janeiro de 2013. O aumento automático de impostos que acontecerá nesse dia poderá virar a narrativa.

 

Em 2013, desde o mais baixo aos mais alto, todos os escalões de impostos sofrerão um agravamento da taxa de IRS. Ou seja, de um dia para o outro, os 10% passarão para 15%, os 28% para 31% e os 35% passarão para 39,6%. A partir desse momento, em vez de estar a subir os impostos para os mais ricos, Obama estará a cortá-los para todos os americanos, menos para os que têm salários mais altos. Na prática é o mesmo, mas muito mais fácil de “vender” aos eleitores.

 

Não faltará muito para perceber se será esta a solução escolhida pelo Presidente. Obama irá reunir-se esta tarde com os líderes republicanos e democratas, naquela que está a ser descrita como a última hipótese de acordo entre os dois lados.

Nuno Aguiar