Mário Monti, primeiro ministro italiano numa conferência em Roma Fonte: Alessia Pierdomenico/Bloomberg
O Negócios questionou por e-mail cinco especialistas em economia financeira e política monetária sobre o papel do BCE e de Mario Draghi nos últimos meses, com especial enfoque nos dois empréstimos a três anos com que o banco central cedeu um bilião de euros aos bancos europeus e na flexibilização das regras de colateral para sete países, incluindo Portugal.
As respostas chegaram por telefone (Charles Wyplosz e Jacob Kirkegaard) e por e-mail (Daniel Gros, Frank Westermann e Ricardo Reis) e foram contributos valiosos para os dois trabalhos que o Negócios publicou ontem e hoje sobre o tema na sua edição em papel. Agora publicamos, em vários “posts” no massa monetária, as respostas completas dos cinco economistas a questões centrais para reflectir sobre o BCE e o futuro do euro.
Os efeitos das intervenções do BCE nos mercados financeiros vão durar, ou vamos ver as taxas de juro das obrigações soberanas subir nas próximas semanas e meses?
[Jacob Kirkegaard] Desde que os governos italiano e espanhol continuem com as reformas das suas economias, não penso que as taxas de juro voltem a subir. E o mesmo será verdade para as emissões de curto prazo nacionais. Há suficiente liquidez no mercado para que os bancos continuem a comprar dívida pública. Uma coisa que foi muito importante nestas operações foi o sinal dado pelo BCE de que está disposto a usar o seu balanço para garantir que os bancos não caem, e que têm dinheiro para acudir aos governos. Em certa medida, os empréstimos das LTRO têm um efeito semelhante ao “quantitative easing” nos EUA e no Reino Unido. Mas é claro que o os Governos não podem deixar de implementar as reformas.
[Charles Wyplosz] É claro que os efeitos não vão durar. Aliás se vir, os “spreads” da Grécia de Portugal nem baixaram de forma consistente com os empréstimos. Nós precisamos que vários países do euro façam um “default” a sério e não como este envolvimento do sector privado previsto para a Grécia. Portugal, Grécia e também Itália deveriam entrar em incumprimento: estes são países com problemas sérios de competitividade, e que nos últimos trinta anos nunca conseguir entregar orçamentos equilibrados. Agora, com recessões à porta, é evidente que não conseguirão apresentar resultados. A subida dos juros é uma questão de dias ou semanas.
Nós precisamos que aconteçam cinco coisas: 1) garantia do BCE de que é uma defesa efectiva para a Zona Euro; 2) “defaults” em vários países, incluindo Itália; 3) reestruturação e recapitalização do sistema financeiro, com falência de muitos bancos, assumindo já as perdas decorrentes dos “defaults”; 4) promoção de uma política de crescimento, com o fim da austeridade nos países em recessão da periferia e políticas expansionistas na Alemanha e noutros países do Norte 5) um enquadramento orçamental adequado que, no entanto, já está a ser oferecidos pelo “fiscal compact”.
[Ricardo Reis] Prever o que vai acontecer nos mercado é tonto e eu não vou cometer esse erro. Mas, pelas razões anteriores, estou céptico quanto aos efeitos da LTRO daqui a alguns meses. Quanto aos três anos, creio que não há muita relevância nessa data. O teste chegará muito mais cedo se tivermos um “default” soberano que chegue com alguns bancos nacionais a declararem falência.
[Frank Westermann] É muito difícil fazer uma previsão. Mas se os mercados anteciparem que haverá tensões daqui a três anos, poderão retirar os seus fundos muito antes.
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