Nove previsões da Comissão que enterram o plano inicial da troika

27/02/2013
Colocado por: Rui Peres Jorge

 

Os chefes de missão: Rasmus Ruffer (BCE), Jurgen Kroeger (Comissão Europeia) e Abebe Selassie (FMI) Fonte: Negócios

 

As previsões económicas da Comissão Europeia divulgadas na semana passada foram um balde de água sobre a estratégia europeia anti-crise e vieram evidenciar que o desafio do ajustamento português é provavelmente maior do que se admitia. Passamos em revista as nove previsões que fazem estremecer o programa de ajustamento português, do défice acima do esperado ao descalabro do desemprego e acabando com o sucesso no défice externo. Qualquer semelhança com o plano inicial é pura coincidência. 

 

 

1) Défice orçamental acima do previsto…

 

 

(Errata: na tabela, onde se lê “Comissão – Fev 2012” deveria ler-se “Comissão – Fev 2013”, uma vez que diz respeito à última previsão da Comissão Europeia publicada em Fevereiro de 2013)

 

As dificuldades do ajustamento orçamental ficam bem evidentes nas revisões em alta dos objectivos de défice. Uns dirão que as metas eram optimistas e subavaliaram a recessão, outros argumentarão que Portugal não se esforçou o suficiente. Uma coisa é certa: o ajustamento orçamental está longe do acordado em 2011 e as metas deverão continuar a ser flexibilizadas para 2014 e 2015.

 

 

2) … e défice estrutural, também revisto em alta, mostra que problema não é apenas da recessão

 

 

(Errata: na tabela, onde se lê “Comissão – Fev 2012” deveria ler-se “Comissão – Fev 2013”, uma vez que diz respeito à última previsão da Comissão Europeia publicada em Fevereiro de 2013)


Mais grave para o País são as revisões em alta no défice estrutural. Em Agosto de 2011 a troika previa que já este ano Portugal atingisse um orçamento equilibrado em termos estruturais (isto é sem medidas extraordinárias e efeitos do ciclo económico). A estimativa anunciada na sexta-feira para 2013 é de 3,1% do PIB, um valor que também revê em alta a previsão de Novembro da troika. A dificuldade de controlar o défice, parece ler-se deste indicador, não é a apenas a recessão pior que o esperado.

 

 

3) A dívida pública não pára de subir: é o indicador mais assustador

 


 

(Errata: na tabela, onde se lê “Comissão – Fev 2012” deveria ler-se “Comissão – Fev 2013”, uma vez que diz respeito à última previsão da Comissão Europeia publicada em Fevereiro de 2013)


A previsão que poderá ganhar o troféu de mais assustadora é a trajectória esperada para a dívida pública. Não é só pelo facto do programa de ajustamento não ter conseguido trancar o peso da dívida pública no PIB abaixo dos 115% do PIB como previsto inicialmente: as previsões da Comissão apontam para que o peso da dívida no PIB continue a subir em 2014, o que acontece pela primeira vez desde que o programa de ajustamento começou.

 

 

4) O consumo privado cai, e cai, e cai

 

 

(Errata: na tabela, onde se lê “Comissão – Fev 2012” deveria ler-se “Comissão – Fev 2013”, uma vez que diz respeito à última previsão da Comissão Europeia publicada em Fevereiro de 2013)


O consumo das famílias, penalizado por cortes de salários e desemprego, não pára de cair. Em 2013 deverá recuar mais perto de 3%, diz agora a Comissão, revendo em baixa a queda prevista há apenas dois meses.

 

 

5) Uma queda de 8% no investimento no ano da recuperação impressiona

 

 

(Errata: na tabela, onde se lê “Comissão – Fev 2012” deveria ler-se “Comissão – Fev 2013”, uma vez que diz respeito à última previsão da Comissão Europeia publicada em Fevereiro de 2013)


Nos planos do Governo e da troika o investimento terá de liderar a recuperação da economia. Só com investimento é que a economia poderá crescer, criar empregos e ganhar competitividade internacional. A distância entre as previsões iniciais e as actuais são significativas. Quando o programa foi desenhado, 2013 seria o ano da retoma, liderada pelo investimento, o qual cresceria na casa dos 2% em 2013. Irá cair 8%, espera a Comissão que também aqui está mais pessimistas que há dois meses.

 

 

6) As exportações puxam, mas pouco

 

 

(Errata: na tabela, onde se lê “Comissão – Fev 2012” deveria ler-se “Comissão – Fev 2013”, uma vez que diz respeito à última previsão da Comissão Europeia publicada em Fevereiro de 2013)


A forte revisão em baixa para as previsões de exportações divulgadas na semana passada estarão no centro da avaliação ao programa de ajustamento. As vendas ao exterior, a par do investimento, seriam os suportes da recuperação em 2013. O agravamento da situação internacional levou a Comissão a prever um crescimento das exportações de apenas 1,4% este ano. E mesmo o valor de 2014 é inferior ao crescimento previsto em cada um dos anos do programa inicial.  

 

7) De onde chega a recuperação de 2014?

 

 

(Errata: na tabela, onde se lê “Comissão – Fev 2012” deveria ler-se “Comissão – Fev 2013”, uma vez que diz respeito à última previsão da Comissão Europeia publicada em Fevereiro de 2013)

 

A Comissão Europeia alinhou a previsão de crescimento para Portugal em 2013 para um valor próximo das previsões do Banco de Portugal e da OCDE: uma recessão de 2% parece neste momento inevitável. A principal dúvida é assim perceber no que se baseia para manter a previsão de uma taxa de crescimento de 0,8% em 2014, tal como previa em Novembro, isto embora tenha revisto em baixa as expectativas para as exportações nesse ano (e mantido as do investimento e consumo privado).

 

 

8) O desemprego é cada vez a cicatriz da crise

 

 

(Errata: na tabela, onde se lê “Comissão – Fev 2012” deveria ler-se “Comissão – Fev 2013”, uma vez que diz respeito à última previsão da Comissão Europeia publicada em Fevereiro de 2013)


A evolução do desemprego é considerado por muitos como o desvio mais impressionante e doloroso da crise. A taxa de desemprego deverá ultrapassar os 17%, um valor impensável há uns anos: no programa inicial, previa-se um pico do desemprego também em 2013… mas de 13,5%.

 

 

9) Resta o saldo externo como boa notícia

 

 

(Errata: na tabela, onde se lê “Comissão – Fev 2012” deveria ler-se “Comissão – Fev 2013”, uma vez que diz respeito à última previsão da Comissão Europeia publicada em Fevereiro de 2013)


Finalmente, a principal variável de “sucesso” do programa de ajustamento: a redução do défice externo entre 2011 e 2013. Mas mesmo no sucesso o desvio face às previsões iniciais é grande. E é aqui que poderá estar o principal factor de risco: um ajustamento demasiado rápido pode indicar uma contracção da procura interna que não será sustentável.


Rui Peres Jorge