O Produto Interno Bruto (PIB) português cresceu 1,5% no primeiro trimestre de 2015, com um desempenho positivo do investimento. Os economistas da Universidade Católica identificam uma “sinal robusto de recuperação do investimento”. Paula Carvalho do BPI fala em “evolução muito positiva”. Filipe Garcia da IMF diz que “não se deve menosprezar o desempenho do sector exportador”. E José Miguel Moreira espera uma aceleração da actividade económica no resto do ano. Previsões de crescimento para 2015 estão agora entre 1,5% e 2%.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
Núcleo de Estudos de Conjuntura sobre a Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica
1. No 1º trimestre de 2015 o PIB cresceu 0.4% em cadeia e 1.5% em termos homólogos. O crescimento trimestral manteve-se constante face ao último trimestre e o homólogo (1.5%) é agora o maior desde o 3º trimestre de 2010, correspondendo, por isso, ao melhor registo deste episódio de recuperação cíclica da economia portuguesa. O crescimento do PIB foi influenciado pela variação de existências que deu um contributo negativo em termos homólogos (1.3 pontos percentuais) mas positivo em cadeia (0.4 p.p.), o que dificulta a leitura da evolução do produto. De qualquer modo a evolução do PIB está acima da sua dinâmica recente o que significa que a economia continua a sua recuperação cíclica.
2. O consumo privado cresceu 0.8% em cadeia e 2.5% em termos homólogos, evoluindo bastante acima da sua dinâmica. A reposição parcial dos vencimentos dos funcionários públicos bem como a persistência de elevados níveis de confiança dos consumidores parecem explicar o andamento deste agregado. O crescimento médio, nos últimos oito trimestres, foi de 0.6% o que corresponde a um crescimento anualizado superior a 2%.
3. O resultado mais promissor está associado ao investimento (FBCF) que evoluiu bastante acima da sua dinâmica recente, com um expressivo crescimento, quer em cadeia (2.9%), quer em termos homólogos (8.5%) que alcançou o valor máximo desde o final de 1998. Pela primeira vez neste ciclo, observa-se um sinal robusto de recuperação do investimento, nomeadamente tendo em conta as expressivas quebras verificadas continuamente desde 2011.
4. As exportações continuam a apresentar um crescimento tendencial positivo e forte, com a leitura do 1º trimestre de 2015 a situar-se abaixo dessa dinâmica favorável (ligeira contracção de 0.3% em cadeia), apesar da variação homóloga se manter num registo favorável (6.8%). As importações em termos reais evoluíram bastante acima da respectiva dinâmica, se bem que influenciadas por um deflator fortemente negativo. Em termos nominais, o saldo da balança de bens e serviços alcançou um novo máximo histórico (cerca de 500 milhões de euros) , o que equivale a 1.1% do PIB (também o máximo histórico) tal como no primeiro e quarto trimestre de 2013.
5. De um modo geral, estes dados confirmam a continuação da trajectória de recuperação da economia portuguesa, mas com uma qualificação positiva importante: a aparente recuperação robusta do investimento que carece, em todo o caso, da observação de mais trimestres com crescimentos equivalentes. Numa tentativa de síntese de toda a informação agora disponibilizada, o NECEP estima que o crescimento tendencial actual do PIB possa oscilar entre 1.6% e 2.4% em termos anualizados.
Paula Carvalho – economista-chefe do BPI
1. Entre todos os aspectos que condicionaram a evolução da actividade nos primeiros três meses do ano, destaca-se o andamento e recuperação do Investimento, extensível a todos os segmentos. A formação bruta de capital em Máquinas e Equipamento prosseguiu a sua trajectória de crescimento paulatino, que vem evidenciando (em termos homólogos) desde o terceiro trimestre de 2013; manteve-se a pujança de investimento em material de transporte (com um peso inferior a 8% do total da FBC); e o investimento em construção cresceu 8.5% e, termos homólogos, interrompendo uma tendência de queda consecutiva desde finais de 2007. Ora, apesar do “ruido” introduzido pela menor formação de stocks por comparação com o 1T14, toda esta evolução é muito positiva, e constitui mais um sinal de que a economia assume uma trajectória no sentido desejável.
2. Outro factor a assinalar é a robustez do consumo privado, que possivelmente crescerá de novo em terno de 2% este ano. Repare-se que esta evolução ocorre em simultâneo com a manutenção da tendência de queda dos níveis de endividamento das famílias, pelo que não constitui sinal de formação de desequilíbrios mas sim reposição dos níveis de consumo num patamar superior, em linha com o andamento do rendimento disponível das famílias.
3. Por outro lado, a melhoria dos termos de troca, fruto do andamento dos preços do petróleo e da evolução cambial, justificou também o contributo positivo das exportações líquidas. Em suma, a informação do INE está em linha com o cenário do BPI, de crescimento económico este ano em torno de 1.8%.
Filipe Garcia – IMF
1. Os números divulgados hoje foram essencialmente semelhantes aos divulgados no passado dia 13. esperado. O crescimento em cadeia de 0.4% expõe a estabilidade no comportamento da economia como um todo. Ou seja, a economia portuguesa, apesar de estar a crescer “pouco”, está a evoluir de forma consistente e dentro do padrão que se regista no resto da EU. Deve notar-se que, desde o início de 2013, apenas se registou um trimestre em que o crescimento em cadeia foi negativo (1ºT 2014), o que é um sinal positivo.
2. O INE dá enfâse ao consumo privado como motor do crescimento em termos homólogos, mas pensamos que não se deve menosprezar o comportamento do setor exportador, que acabou por não comprometer o crescimento do PIB como um todo. Este foi um período que se caracterizou por um contexto benéfico ao nível da desvalorização do euro e queda dos preços do petróleo, mas com um aspeto bastante negativo: a forte desaceleração das exportações para Angola.
3. Para 2015 as perspetivas continuam positivas apontando-se para um crescimento perto de 1.5%,sempre dependendo do contexto externo. Se as medidas do BCE resultarem num aumento do crédito concedido por parte dos bancos, a procura interna poderá continuar a responder favoravelmente. A procura interna continua muito condicionada pela elevada carga fiscal, pelas poucas melhorias nos últimos meses em termos de mercado de trabalho e níveis de confiança relativamente baixos. Os riscos mais importantes estão nas exportações – Portugal está sempre muito dependente da dinâmica económica dos seus clientes e, naturalmente, num eventual contágio caso a situação da Grécia resulte na saída do país da UEM.
José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio
1. A estimativa final do INE para o PIB de Portugal no 1.º trimestre de 2015 apontou para uma subida de 0.4%, idêntica à observada no trimestre anterior, confirmando o valor avançado na estimativa inicial, o qual, recorde-se, tinha ficado abaixo das nossas perspetivas e da mediana das projeções das instituições contactadas pela Bloomberg (+0.5%, em ambos os casos).
2. Na ótica da procura, confirmaram-se, no essencial, as indicações que tínhamos avançado aquando da estimativa inicial, com o nosso erro de previsão a ter vindo do comportamento das exportações líquidas, que não apresentaram um contributo marginalmente positivo como se previa antes de ser conhecida a estimativa inicial do PIB, mas negativo, e com os impulsionadores do crescimento económico neste arranque de ano a serem, como tínhamos referido, o consumo privado e o investimento.
3. Para 2015, não obstante os dados do PIB do 1ºT2015 terem ficado aquém do esperado e da revisão em baixa do registo do 4ºT2014 efetuada aquando da estimativa inicial (com impacto no carry-over para este ano, se bem que agora também se assistisse a uma ligeira revisão em alta do PIB dos trimestres anteriores), continuamos a perspetivar uma aceleração da atividade económica, com o crescimento previsto para o PIB a manter-se em 1.7%. Estas perspetivas têm implícita uma expansão em cadeia do PIB no 2.º trimestre de 2015 entre 0.4% e 0.5%, com a economia a dever ser suportada essencialmente pela procura interna, designadamente pelo consumo privado e pelo investimento em capital fixo (FBCF), com as exportações líquidas a deverem voltar aos contributos positivos, ainda que ligeiro.
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