Começou a época de previsões económicas de 2015 num momento particularmente sensível para Portugal. Na saída da crise, as expectativas são essenciais para aproveitar qualquer bom vento de retoma e as várias instituições sabem disso. Além disso, com a saída da troika e eleições à vista há uma ansiedade adensada sobre as opções de política que aí vêm.
Nas últimas semanas, FMI, Banco de Portugal e Conselho de Finanças Públicas avançaram as suas perspectivas: os números que apresentaram reflectem bem as sensibilidades de cada instituição e são, por vezes, contraditórios.
O Banco de Portugal, por influência do BCE, confia que as suas medidas de estímulo monetário vão puxar pela Europa e, logo, por Portugal – que beneficiará também da queda do petróleo. O FMI, pelo contrário, está muito pessimista quanto ao que aí vem – apesar do empurrão do BCE, do euro baixo e dos preços da energia, e a culpa, defende, é da hesitação nacional na implementação das chamadas reformas estruturais que propõe. E o Conselho de Finanças Públicas, que se estreou nas previsões macroeconómicas, surge como o mais optimista entre todos, mas avisa que se o próximo governo devolver salários e pensões, mesmo com o crescimento elevado, o défice voltará acima de 3%.
Previsões de crescimento real do PIB
O gráfico é esclarecedor:
- O FMI reconhece ventos cíclicos positivos que puxam pela economia em 2015, mas em seis meses ficou especialmente pessimista sobre o futuro e em 2019 vê a economia a crescer abaixo de 1,5%.
- O Banco de Portugal é o mais optimista de todos para 2015 (só assinantes) e explica-o nas suas projecções. Menos austeridade em 2015 dá um empurrão à procura interna, e nos anos seguintes o investimento e as exportações puxarão pela economia para um crescimento próximo dos 2%.
- O Conselho de Finanças Públicas surpreendeu pelo optimismo, apontando para um crescimento bem acima de 2% logo em 2016, o que se deverá ao facto de assumir que grande parte das medidas de austeridade serão revertidas – sendo que fez acompanhar as previsões de avisos sobre os riscos de aumento de défice.
A interpretação dos números fica ainda mais difícil quando olhamos para outros indicadores, como mostramos nos gráficos abaixo:
O Conselho de Finanças Públicas espera mais crescimento com pouca austeridade, mas vê a dívida pública a descer praticamente ao mesmo ritmo que o FMI.
Divida pública em % do PIB
E o Banco de Portugal antecipa menos crescimento que o CFP, mas está mais optimista quanto à procura externa (e, segundo as regras do Eurosistema, está obrigado a assumir hipóteses semelhantes para a politica orçamental).
Taxa de crescimento dirigida à economia portuguesa
Esta confuso? É para estar. E estas ainda são as previsões de equipas económicas de instituições independentes do poder político. Em breve teremos previsões do Governo (no final de Abril com a actualização do Programa de Estabilidade e Crescimento) e do PS (cuja equipa de economistas deverá apresentar um relatório nas próximas semanas).
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