Inflação em queda lenta até final do ano

11/07/2012
Colocado por: Rui Peres Jorge

Inflação estabilizou nos 2,7%. A inflação está e continuará próxima dos 3% nos próximos meses, mas a expectativa de Miguel Moreira, do Montepio, é a de esta pressão sobre os preços seja temporária. Paula Carvalho, do BPI, aponta para uma inflação média no ano na casa dos 2,5% e 2,6%, mas espera que a variação homóloga de preços caia abaixo de 2% nos últimos meses do ano.     

    

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.  

 

Paula Carvalho – Departamento de Estudo Económicos do BPI

 

1. Apesar do comportamento da inflação em Junho estar em linha com as previsões, numa análise da evolução dos preços por grandes classes de consumo, identifica-se o impacto da queda da procura interna: mensalmente, praticamente todas as classes de bens registaram quedas de preços, tendo sido parcialmente compensadas pelo aumento que ocorreu nos preços dos bens alimentares (Alimentação e Bebidas), com grande peso no cabaz de consumo. Relativamente às variações homólogas, várias classes têm variações negativas, designadamente Vestuário e Calçado, Saúde (revisão dos preços dos medicamentos) e acessórios para a Habitação. O contributo da classe de Habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis, com variação de cerca de 10% (y/y) reflecte o aumento do IVA sobre o gás e a electricidade no passado mês de Outubro. Impacto que se desvanecerá em Outubro próximo.

 

2. Tudo somado, a tendência de queda da taxa de inflação homóloga deverá manter-se e acentuar-se no último trimestre do ano. Em Dezembro, a taxa média de inflação deverá situar-se em torno de 2.5% a 2.6%. A homóloga deverá cair para valores em torno de 1.4% a 1.5%, patamar coincidente com a nossa previsão para a média de 2013.

 

3. Esta tendência dos preços ao consumidor traduz sobretudo o impacto da retracção da procura interna. O regresso a uma situação de diferencial negativo face aos parceiros comunitários (inflação menor que na UEM) traduzir-se-á numa situação vantajosa do ponto de vista da competitividade externa, contribuindo para progressos no esbatimento dos desequilíbrios. É também um factor com impacto favorável sobre os orçamentos familiares.

 

 

José Miguel Moreira – Departamento de Estudo do Montepio 

 

1. Em junho o índice de preços no consumidor (IPC) registou um crescimento homólogo de 2.7%, idêntica à do mês anterior e que representa um mínimo desde dezembro de 2010. Este registo surge depois de três desacelerações consecutivas, com a inflação a manter a tendência descendente iniciada em maio de 2011, após um longo período de quase 2 anos em ascensão, tendência que se viu pontualmente interrompida com este dado de junho e no passado mês de fevereiro e que já havia sido temporariamente suspendida em setembro e outubro, na altura colocando a inflação em máximos desde julho de 2010, em resultado das alterações no IVA sobre a eletricidade e o gás natural.

 

2. Em termos mensais, o IPC caiu 0.2%, o dobro do mês anterior e o mesmo que no mês homólogo do ano anterior. A classe que mais contribuiu para a descida do índice total foi uma vez mais a de transportes (-0.20 p.p.), com uma quebra de 1.1% (-0.7% em junho de 2011), seguida da saúde (-0.08 p.p.), com uma descida de 1.0% (0.9 p.p. inferior à observada no mês homólogo do ano anterior) e do vestuário e calçado (-0.06 p.p.). A um nível mais desagregado, destaca-se a contribuição negativa para a taxa de variação mensal do IPC do subgrupo de combustíveis e lubrificantes para equipamento para transporte pessoal (-0.21 p.p.). Por sua vez, a classe com o maior contributo positivo foi a dos produtos alimentares e bebidas não alcoólicas (+0.12 p.p.), refletindo um crescimento mensal dos preços de 0.7% (-0.1% em maio e estagnação em junho de 2011).
 

 

3. A inflação homóloga viu-se essencialmente impulsionada pela classe de habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis (+1.2 p.p.), refletindo um crescimento dos preços de 10.0%, seguida das classes de restaurantes e hotéis (+0.49 p.p.) e dos transportes (+0.40 p.p.). Nas classes com contribuições negativas salienta-se a de vestuário e calçado (-0.24 p.p.).”

  
4. A taxa de variação homóloga do IPC core (que exclui a energia e os bens alimentares não transformados) foi de 1.5%, revelando uma desaceleração de 0.1 p.p. face ao registo de maio, contrastando com a referida manutenção da variação homóloga do IPC geral, mantendo-se, neste sentido, num nível bastante inferior à deste. O diferencial entre a taxa de variação homóloga deste indicador e a do IPC permaneceu negativo pelo 31º mês consecutivo, continuando a evidenciar que as pressões inflacionistas advêm, essencialmente, dos preços da energia. Todavia, a inflação core também não está imune às alterações fiscais que têm vindo a ser efetuadas desde meados de 2010, embora a subida de outubro do IVA na eletricidade e no gás natural não tivesse afetado esta classe.

 

5. O índice harmonizado de preços no consumidor (IHPC) registou igualmente um decréscimo mensal de 0.2%, tendo a sua variação homóloga permanecido igualmente inalterada nos 2.7%, mantendo-se pelo 2º mês consecutivo alinhada com a do IPC. O IHPC português apresenta um crescimento homólogo acima do estimado pelo Eurostat para a Zona Euro (+2.4%), o que acontece desde agosto de 2007, tendo-se assistido a uma manutenção dessa diferença em 0.3 p.p..
  

6. Em termos prospetivos, continuamos a considerar que as atuais pressões inflacionistas assumem um caráter largamente temporário, mas que deverão permanecer elevadas no corrente ano. Com efeito, a inflação no país (medida pela variação homóloga do IPCH) deverá manter-se num nível relativamente elevado em 2012 (+2.6%, de acordo com as nossas perspetivas), mas inferiores aos 3.6% observados no ano passado, refletindo, essencialmente, o impacto de alterações da tributação indireta e de preços condicionados por procedimentos de natureza administrativa em 2011 e 2012, no contexto das medidas de consolidação orçamental incluídas no programa de ajustamento económico e financeiro (PAEF) acordado com a troika. Entre as medidas orçamentais adotadas com elevado impacto no comportamento da inflação em 2012 constam a reclassificação das taxas de IVA aplicadas a alguns bens e serviços no início do ano, bem como o aumento de preços fixados administrativamente e de alguns impostos específicos sobre o consumo. A dissipação desses efeitos ao longo do próximo ano, em conjugação com uma descida do preço do petróleo, uma significativa desaceleração do deflator das importações e a manutenção de uma forte moderação salarial, refletindo a forte recessão económica que o país atravessa (apontamos para uma queda anual de 2.5% do PIB em 2012) e a intensa deterioração da situação do mercado laboral, deverão traduzir-se num regresso da inflação para níveis mais modestos em 2013, em torno de 1.0%.

Rui Peres Jorge