Inflação de 3% em mínimos desde Agosto

11/05/2012
Colocado por: Rui Peres Jorge

A taxa de inflação cai para 3% em Abril. José Miguel Moreira, do Montepio, analisa os dados do INE relativos à variação de preços em Portugal. Os transportes e a classe “habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis” continuam a puxar pelos preços com esta última a registar uma inflação homóloga de quase 10%. O Montepio mantém uma previsão de inflação de 3,2% para este ano. 

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.  

 

 

José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio

 

1. Em abril o índice de preços no consumidor (IPC) registou um crescimento homólogo de 3.0%, desacelerando pelo 2º mês consecutivo e pela 5ª vez nos últimos 6 meses (+3.1% em março), renovando mínimos desde agosto de 2011, e confirmando o retomar da tendência descendente iniciada em maio, após um longo período de quase 2 anos em ascensão, tendência que foi pontualmente interrompida no passado mês de fevereiro e que já havia sido temporariamente suspendida em setembro e outubro, na altura colocando a inflação em máximos desde julho de 2010.

2. Em termos mensais, o IPC subiu 0.3%, bem menos do que no mês anterior (+1.2%), em resultado da sazonalidade típica destes meses, e apenas ligeiramente inferior ao observado no mês homólogo do ano anterior (+0.4% em abril de 2011). A classe que mais contribuiu para a variação do índice total foi a de transportes (+0.09 p.p.), associado a um crescimento mensal dos preços de 0.5%, seguida das de vestuário e calçado e de restaurantes e hotéis, ambas com um contributo de 0.05 p.p., e de bebidas alcoólicas e tabaco (+0.04 p.p.), que evidenciou o maior crescimento mensal dos preços (+1.2%). Para tal terá contribuído o aumento do imposto sobre o tabaco em janeiro de 2012, que foi sendo repercutido nos preços do consumidor à medida que se foi escoando o stock de tabaco com o nível anterior de imposto, com o INE a defender que este efeito ter-se-á, contudo, esgotado em abril. As classes de saúde e de comunicações foram as únicas a ver os preços cair em abril, embora de forma modesta (-0.3% e -0.2%, respetivamente) e com contributos negativos inferiores a 0.02 p.p..
 
3. A inflação homóloga continuou a ser impulsionada pela classe dos transportes, que se manteve a evidenciar uma das maiores contribuições, não obstante ter uma nova desaceleração, de 4.8% para 3.7%, vendo-se pelo 5º mês consecutivo ultrapassada pela classe de habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis, onde os preços cresceram a um ritmo ligeiramente superior ao do mês anterior (+9.9% vs +9.7% em março) e bem superior aos dos transportes, evidenciando um contributo igualmente mais elevado (+1.19 p.p. vs +0.65 p.p. no caso dos transportes). As únicas contribuições negativas para a variação homóloga do IPC provieram da classe do vestuário e calçado (-0.27 p.p.), bem como, embora mais marginalmente, da classe de acessórios, equipamento doméstico e manutenção corrente da habitação (-0.02 p.p.).
     
4. A taxa de variação homóloga do IPC core (que exclui a energia e os bens alimentares não transformados) foi de 1.7%, revelando uma desaceleração de 0.2 p.p. face ao registo de março, superior à verificada no IPC geral (-0.1 p.p.) e mantendo-se num nível bastante inferior à deste. O diferencial entre a taxa de variação homóloga deste indicador e a do IPC permaneceu negativo pelo 29º mês consecutivo, continuando a evidenciar que as pressões inflacionistas advêm, essencialmente, dos preços da energia. Todavia, a inflação core também não está imune às alterações fiscais que têm vindo a ser efetuadas desde meados de 2010, embora a subida de outubro do IVA na eletricidade e no gás natural não tivesse afetado esta classe.

5. O índice harmonizado de preços no consumidor (IHPC) registou igualmente um acréscimo mensal de 0.3%, tendo a sua variação homóloga desacelerado um pouco mais, de 3.1% para 2.9%, passando a estar 0.1 p.p. abaixo da do IPC. O IHPC português apresenta um crescimento homólogo acima do estimado pelo Eurostat para a Zona Euro (+2.6%), o que acontece desde agosto de 2007, tendo-se assistido a uma diminuição dessa diferença, de 0.4 p.p. para 0.3 p.p..
     
6. Em termos prospetivos, continuamos a considerar que as atuais pressões inflacionistas assumem um caráter largamente temporário, mas que deverão permanecer elevadas no corrente ano. Com efeito, a inflação no país (medida pela variação homóloga do IPCH) deverá manter-se em níveis elevados em 2012 (+3.2%, de acordo com as nossas perspetivas), apenas ligeiramente inferiores aos 3.6% observados no ano passado, devendo então posteriormente regressar para níveis mais modestos em 2013, para valores em torno de 1.3%.

7. Refira-se que a evolução das principais determinantes dos preços no consumidor, num contexto de crescimentos moderados dos custos salariais (condicionados pelos elevados níveis de desemprego), implicaria uma evolução mais moderada da inflação em 2012. Contudo, a evolução dos preços ver-se-á bastante condicionada por medidas de política orçamental, que determinarão um contributo muito significativo para a inflação no corrente ano, em particular a reclassificação das taxa de IVA aplicadas a alguns bens e serviços no início do ano, bem como pelo aumento de preços administrados e de alguns impostos específicos sobre o consumo. Já a contração da atividade económica no país (apontamos para uma queda anual de 3.2% do PIB em 2012), assim como o abrandamento da economia mundial, traduzir-se-ão numa evolução globalmente favorável dos custos de produção, que, conjugada com a dissipação dos efeitos das medidas orçamentais, justificam a forte diminuição da inflação prevista para o próximo ano.

Rui Peres Jorge