O ritmo de aumento de preços em Portugal abrandou em Setembro. O INE revelou hoje que a inflação homóloga baixou, mas manteve-se próxima dos 3% em Setembro. Miguel Moreira, explica o nível elevado e diz que espera que a inflação continue a diminuir este ano e no próximo. Filipe Garcia sublinha o contributo dos combustíveis num ritmo de aumento de preços que, ainda assim, é elevado.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio
1. A inflação diminuiu em setembro de 3.1% para 2.9%, retomando assim a tendência descendente evidenciada desde novembro de 2011, depois de nos dois meses anteriores ter acelerado e saído dos 2.7% em que se encontrava em maio e junho, que representou mínimos desde dezembro de 2010. Este comportamento esteve associado a um crescimento mensal do IPC de 0.6%, 0.2 p.p. inferior ao observado no mês homólogo do ano anterior. Em termos prospetivos, continuamos a considerar que as atuais pressões inflacionistas assumem um carácter largamente temporário, mas que deverão permanecer elevadas no corrente ano.
2. Com efeito, a inflação no país (medida pela variação homóloga do IPCH) deverá abrandar dos 3.6% observados no ano passado para 2.8% em 2012, continuando ainda acima da média da Zona Euro, refletindo, essencialmente, o impacto de alterações da tributação indireta e de preços condicionados por procedimentos de natureza administrativa em 2011 e 2012, no contexto das medidas de consolidação orçamental incluídas no programa de ajustamento económico e financeiro (PAEF) acordado com a troika. Entre as medidas orçamentais adotadas com elevado impacto no comportamento da inflação em 2012 constam a reclassificação das taxas de IVA aplicadas a alguns bens e serviços no início do ano, bem como o aumento de preços fixados administrativamente e de alguns impostos específicos sobre o consumo. A dissipação desses efeitos ao longo do próximo ano, em conjugação com uma descida do preço do petróleo, uma significativa desaceleração do deflator das importações, a manutenção de uma forte moderação salarial – refletindo a forte recessão económica que o país atravessa (apontamos para uma queda anual de 2.8% do PIB em 2012), bem como as novas medidas de austeridade já anunciadas –, e a intensa deterioração da situação do mercado laboral, deverão traduzir-se num regresso da inflação para níveis mais modestos em 2013, em torno de 1%.
Filipe Garcia – Informação de Mercados Financeiros
1. O comportamento dos combustíveis continua a impedir um recuo nos preços mais significativo e demonstra que apesar de as dinâmicas macroeconómicas do país sugerirem queda nos preços, a dependência energética do país e a influência de outros preços internacionais (como os da alimentação) impede uma evolução mais negativa da inflação.
2. Para o resto do ano prevemos uma descida da taxa homóloga, com a inflação média a ficar ligeiramente abaixo dos 3%. Para tal expectativa contribui a nossa previsão que os preços em Outubro subirão menos do que no ano passado (1%).
3. Esperamos que em 2013 os preços apresentem uma evolução ainda mais moderada, mas é discutível que possam vir a concretizar-se as previsões do FMI,OCDE e BdP, que apontam para valores entre +0.7% e 1%. A trajectória de queda da inflação continuará a ser sobretudo condicionada pelos preços relacionados com a energia, combustíveis, transportes e alimentação, que constituem o risco em alta.
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