Inauguração do Hospital de Cascais – Dr. José de Almeida, em Fevereiro de 2010. Fonte: Pedro Elias/Negócios
O ministro da Saúde diz que sim. A Ordem, os sindicatos e a oposição lembram um estudo recente da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) para dizer que não.
O ministro da Saúde, Paulo Macedo, disse, na terça-feira à noite no Parlamento, que há nos hospitais portugueses mais 1.000 médicos do que o necessário. Estas declarações causaram muito impacto junto da oposição, sobretudo Bloco de Esquerda, e dos profissionais que já criticaram as palavras do governante.
“Temos falta de médicos de família, mas, pelas nossas contas, entre especialistas hospitalares poderemos ter mais 1.000 do que necessário”, disse Paulo Macedo durante a discussão do Orçamento do Estado da Saúde para o próximo ano.
As palavras caíram como uma bomba na bancada do Bloco de Esquerda. O deputado João Semedo levantou-se para dizer que “ou o senhor ministro anda a ser enganado pelo senhor secretário do Estado Manuel Teixeira, ou ele tem enganado os portugueses pois publicou um estudo recente em que fala em 1.000 médicos de família em falta e 600 internistas em falta nos hospitais”.
O presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos considerou as afirmações do ministro “preocupantes”. “Uns dizem que há falta de médicos, e até contratam médicos extra-comunitários e permitem que existam um número exagerado de escolas médicas e alunos de medicina. Outros dizem que há médicos em excesso no SNS e permitem que todas as situações anteriores estejam a acontecer, conduzindo centenas de famílias e alunos de medicina a um buraco sem saída”, disse, em comunicado, Miguel Guimarães. Também o vice-presidente da Federação Nacional dos Médicos, Mário Jorge, se referiu às declarações do ministro Paulo Macedo como sendo um “disparate completo”.
No Parlamento, o secretário de Estado Leal da Costa explicou que o Ministério da Saúde recebeu um estudo – que não disponibilizou ainda – onde “fazendo uma parametrização é fácil encontrar um excesso de médicos hospitalares”, disse, acrescentando: “O próprio cálculo do estudo que aponta para 600 médicos internistas a menos remete para um cálculo que tem que ver com uma distribuição em termos de vagas disponíveis”, sublinhou, embora reconhecendo que “é verdade que há especialidades altamente carenciadas e por isso é preciso um reequilíbrio da distribuição dos médicos”.
Enquanto não aparece o novo estudo do GOverno, aqui fica o estudo “Actuais e Futuras Necessidades Previsionais de Médicos no SNS”, elaborado pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), que conclui (pag. 178) que existem em Portugal menos 1.000 médicos de família do que o desejável, bem como menos 600 internistas, menos 87 dermatologistas, entre outras especialidades. Do lado oposto pode-se concluir que existem a mais 111 anestesistas, 114 cardiologistas, 27 pneumologistas, entre outros.