Há muitos mais pobres em Portugal do que se pensa. Um recente artigo publicado pelo ISEG estima que cerca de 10% da população com um rendimento superior ao mediano enfrenta privação material, isto é, não tem acesso a bens básicos para a sua integração e participação social. A conclusão é de Carlos Farinha Rodrigues e Isabel Andrade num trabalho intitulado: “Monetary Poverty, Material Deprivation and Consistent Poverty in Portugal” .
Segundo os últimos dados do INE, são pobres em Portugal (enfrentam risco de pobreza, para ser mais rigoroso) cerca de 17,9% da população (o número dos que vivem com menos de 60% do rendimento mediano). É contudo evidente para todos que ser pobre não é apenas ter falta de dinheiro. Ser pobre é também estar privado de bens básicos à respectiva integração e participação social, como por exemplo, não ter acesso a um telefone ou a uma televisão a cores, e não conseguir comer uma refeição de carne ou peixe dia sim, dia não.
Os dois investigadores lançam-se por isso na tentativa de medir o que chamam de “pobreza consistente”. A conclusão é alarmante: “O facto de cerca de 10% das famílias portuguesas com rendimento por adulto equivalente acima do mediano enfrentam privações [materiais] tem de ser considerado preocupante”, avisam dos dois economistas.
Os autores que identificam também os sectores sociais mais afectados: famílias com um só pai; famílias com crianças e desempregados.
Palavras Chave: Multidimensional poverty measurement, material deprivation, consistent poverty, Portugal
Código JEL: D63, I32
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