Exportações de Janeiro são bom augúrio para 2013

12/03/2013
Colocado por: Rui Peres Jorge

Exportações de bens cresceram 5,6% em Janeiro, mediu o INE. Filipe Garcia, da IMF, analisa os dados referentes aos três meses findos em Janeiro para evidenciar que, nesse período, a redução do défice comercial aconteceu mais pela queda das importações do que pelo crescimento das exportações. Ainda assim, resultado positivo, sem dúvida, diz. José Miguel Moreira, do Montepio, evidencia por seu lado, o bom arranque de 2013 com os dados de Janeiro a apontarem para um uma recuperação significativa das exportações. Paula Carvalho, do BPI, faz uma leitura semelhante e espera que que o pior, no que ao mercado externo diz respeito, esteja para trás. 

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

 

Paula Carvalho – Departamento de Estudos do Banco BPI

 

1. O comportamento das exportações de mercadorias em Janeiro constitui um bom augúrio, sugerindo que a tendência observada ao longo dos últimos anos é sustentada, tendo por base ganhos de competitividade e esforços de penetração nos mercados externos por parte dos empresários portugueses. A evolução registada, ainda que careça de confirmação nos próximos meses, comprova a ideia de que a evolução do comércio externo registada nos últimos três meses de 2012 foi temporária, fruto de factores específicos, entre os quais o acentuado arrefecimento dos principais parceiros externos e a ocorrência de greves no sector portuário.

 

2. A relativa dispersão dos factores que justificam o bom desempenho das exportações em Janeiro, a nível de mercados de destino e de tipo de produtos, constitui um sinal inequívoco de resiliência acrescida no sector dos bens transacionáveis: as exportações totais inverteram a trajectória de queda (-0.1% em Novembro, -3.2% em Dezembro e +5.6% em Janeiro), evidenciando-se a aceleração das exportações com destino à União Europeia: o comércio intracomunitário aumentou 3.3% em Janeiro depois de recuar cerca de 2.5% nos últimos três meses de 2012. Destaca-se também o bom comportamento das exportações para fora da EU: aumentaram 12% destacando-se os contributos dos mercados de Angola, Argélia, Rússia, Brasil e Tunísia. Em termos de produtos vendidos ao exterior, refira-se que esta trajectória das exportações de mercadorias ocorre num contexto de queda das exportações de dois importantes grupos de produtos: os combustíveis refinados e os automóveis. Destacam-se os contributos positivos das Máquinas e Equipamentos, Metais Comuns, Bens Agrícolas e Alimentares, Químicos, entre outros.

 

3. Não obstante este bom comportamento, é de realçar que será mais difícil que as Exportações contribuam de forma expressiva para o andamento do PIB em 2013 dados os elevados ritmos de crescimento registados desde 2010. Todavia, é essencial a manutenção de uma trajectória positiva nesta vertente de forma a gerar crescimento económico sustentado no futuro, assente também na retoma do investimento e do emprego e, mais tarde, do consumo.  

 

José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio

1. Défice comercial arranca ano em forte desagravamento, reflectindo um forte e superior acréscimo das exportações face às importações, sugerindo um regresso das exportações líquidas aos crescimentos no 1ºT2013. Balança comercial registou uma forte diminuição do défice em Janeiro, quando ajustada de sazonalidade, com este comportamento a reflectir fortes acréscimos tanto das exportações, como das importações mas bastante mais elevado no primeiro caso.

 

2. Assim, depois da perda de fulgor evidenciada pela balança comercial desde meados de 2012, este primeiro registo do ano parece indiciar uma retoma da tendência de melhoria que vinha sendo apresentada desde 2010, com o défice comercial a cair em Janeiro para um nível mínimo desde Agosto de 1996.  Em termos trimestrais, os primeiros dados para o 1ºT2013 evidenciam um desagravamento do défice da balança comercial de bens a preços correntes, sugerindo para já um contributo positivo para o crescimento do PIB neste trimestre.

 

3. Trata-se de um resultado que se deverá ser confirmado em termos reais, apontando-se para um contributo positivo das exportações líquidas de bens e serviços para o crescimento do PIB, reflectindo um regresso das exportações aos crescimentos e com as importações a deverem por sua vez continuar a contrair, continuando a reflectir a pior dinâmica interna da economia. 

 

4. Isto depois de, no 4ºT2012, as exportações líquidas terem evidenciado um contributo negativo, com as exportações a acabarem por contrair mais do que o que havíamos inicialmente admitido (com um contributo de -0.8 p.p.) – em resultado designadamente da maior intensificação do ritmo de contração da Zona Euro no final do ano passado –, contraindo inclusivamente mais do que as importações e mais do que anulando o contributo positivo de 0.5 p.p. apresentado por estas últimas, que registaram em todo o caso também uma intensa queda, permanecendo muito condicionadas pela bastante fraca dinâmica interna da economia. Refira-se que as importações só não desceram mais porque se assistiu a um aumento dos stocks, que, como referido, implicou um contributo bastante positivo da variação de existências.

 

Filipe Garcia – Informação de Mercados Financeiros

 

1. Analisando apenas os números relativos ao trimestre que terminou Janeiro, o mais significativo é que a redução do défice da balança comercial se deu muito mais pelo lado da redução das importações do que pelo aumento das exportações. Trata-se de um sintoma do contexto de recessão económica do país.

 

2. Vale a pena referir que o se tratou de um período influenciado por dois aspectos que prejudicaram as exportações: as greves nos portos portugueses e o contexto global de abrandamento económico. A generalidade das economias mundiais registou um abrandamento ou mesmo um recuo no último trimestre de 2012, a que Portugal não ficou imune.

 

3. Em todo o caso, trata-se um número positivo em termos de ajustamento de longo prazo, atenuando o desequilíbrio em termos de comércio externo e que é uma das principais ameaças à economia portuguesa.

 

4. Destaque ainda para o processo de diversificação de destinos das exportações portuguesas, que continua em curso. As exportações para a UE caíram 1.1%, mas subiram 6.4% para fora da comunidade

Rui Peres Jorge