Os dados de comércio internacional publicados ontem pelo INE mostram que a venda de bens ao exterior continuou a crescer pelo quarto ano consecutivo em 2013 (4,6%), embora a um ritmo mais lento que no ano anterior. Filipe Garcia, do IMF, considera que os números do INE “confirmam um ano muito positivo em termos de balança comercial”. Uma ideia também sublinhada por Paula Carvalho, economista-chefe do BPI, apesar dos riscos que 2014 traz, nomeadamente o abrandamento das exportações de combustíveis e as limitações à entrada de bens nacionais em Angola.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
Paula Carvalho – economista-chefe do BPI
A performance conjunta do comércio externo de bens foi bastante favorável em 2013, pois o défice da balança de mercadorias encolheu cerca de 15%. Ou seja, apesar da desaceleração das exportações e da recuperação da procura interna gerando maiores necessidades de produtos importados, o desequilíbrio encolheu. Tendo em conta as perspectivas para a balança de serviços (só são conhecidos valores até Novembro), parece certo que o saldo conjunto das duas balanças (Bens e Serviços) será excedentário, consolidando a tendência que se iniciou no ano passado. Ora, esta é das melhores notícias em termos dos progressos na diluição de desequilíbrios estruturais que se diagnosticaram aquando do recurso ao PAEF.
Não obstante, vários desafios se colocam para 2014:
– aparentemente a melhoria registada tem um carácter mais estrutural do que cíclico; mas esta ideia tem que ser confirmada em 2014-15;
– os combustíveis deram um contributo muito significativo para o crescimento, que se esgotará com o máximo de utilização da capacidade instalada de refinação e tendo em conta o desvio previsível da produção para consumo interno;
– algumas moedas de mercados destino relevantes têm vindo a sofrer fortes desvalorizações, reduzindo a competitividade preço das exportações portuguesas dado que o euro se mantém estável ou mesmo relativamente apreciado face ao passado;
– a imposição de quotas às importações de algumas mercadorias em Angola tenderá a afectar progressivamente as exportações para o país, sobretudo na medida em que produção local for surgindo para fazer face à procura. E Angola é o quarto maior mercado destino.
Filipe Garcia – IMF
Os números do comércio internacional referentes ao quarto trimestre de 2013 confirmam um ano muito positivo em termos de balança comercial. Na verdade, as contas internacionais (Balança Comercial, Taxa de Cobertura e Balança de Transacções Correntes) são o aspecto mais virtuoso do processo de ajustamento da economia portuguesa.
Tal como na maior parte dos meses anteriores, no último trimestre há uma evolução positiva das exportações em termos homólogos. É verdade que a capacidade instalada em Sines explica uma parte deste resultado, que dificilmente será repetido em 2014, mas não deixa de ser um bom sinal, até porque o crescimento das exportações não se explica apenas ou esse factor O ganho de quota dos destinos extra-UE é também encorajador, dado que mitiga a dependência de Portugal face aos parceiros europeus, mas sem reduzir as exportações para a UE, pelo contrário. Para 2014 as perspectivas são favoráveis já que se espera crescimento económico acima do registado no ano anterior para os países da UE, que ainda valem 70% das exportações, nomeadamente Espanha, Alemanha e França. Se, por exemplo, o mercado automóvel internacional acomodar uma maior produção em Portugal, os números de 2014 poderão voltar a surpreender em alta.
Nas importações o comportamento também é encorajador, precisamente por já se registar um ligeiro aumento face a 2012. Na base deste aumento não está falta de competitividade, mas sim o maior dinamismo da economia. Portugal importa energia, componentes, matérias primas e equipamentos para os quais não há substitutos internos. Ora isso significa que a um incremento da actividade económica também tem de responder um incremento das importações. Esse facto é observável a partir do 2o trimestre, coerente com a ligeira expansão da economia. O ideal é que as importações cresçam menos que as exportações (em valor absoluto) o que sucedeu.
Para 2014 o desafio é continuar o crescimento das exportações acima do das importações. Tal poderá ser mais difícil de se conseguir a partir do momento em que o consumo privado de bens acelere.
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