Estado pediu cá dentro e aplicou lá fora

27/01/2011
Colocado por: Pedro Romano

O Governo justificou as medidas de consolidação orçamental de 2010 com a necessidade de ganhar credibilidade junto dos mercados internacionais. Mas, a julgar pelo gráfico abaixo, retirado da base de dados do Banco de Portugal, talvez o tenha feito demasiado tarde.

 

Fonte: Banco de Portugal; valores em milhões de euros

 

A imagem mostra a dívida líquida contraída pelas Administrações Públicas no fim de cada ano. Um valor positivo significa um crédito – empréstimos, obrigações, certificados, etc. Um valor negativo indica que há uma aplicação financeira no sector em causa (excluindo acções). De referir que o ano de 2010 ainda não está fechado, faltando apurar o mês de Dezembro. Mas as conclusões não devem ser significativamente alteradas:

 

a) Em 2010, e pela primeira vez, desde 2002, o défice foi financiado através de unidades residentes, ao que tudo indica bancos.

 

b) O Estado aplicou perto de 1,4 mil milhões de euros no exterior até Novembro do ano passado. Explicação possível: perante a tensão nos mercados, o IGCP optou por antecipar uma parte do financiamento de 2011. Não é claro por que terão os fundos sido aplicados lá fora, sobretudo tendo em conta o que aconteceu em anos recentes, mas a opção pode ser justificável à luz de muitos critérios. O Negócios colocou a pergunta ao Governo, não tendo obtido resposta.

 

c) Como o défice externo não diminuiu de forma significativa em 2010, a colocação de dívida junto de unidades residentes representou apenas uma alteração na composição do défice. O Estado endividou-se menos lá fora, mas o crédito fornecido pelos bancos nacionais foi, por sua vez, conseguido lá fora. Uma parte deste crédito terá, aliás, sido assegurado com garantias do Estado.

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