O desemprego atinge quase um milhão de portugueses, atingindo os 16,9% da população activa. Paula Carvalho, do BPI, classifica os dados como “preocupantes” e diz que “mercado de trabalho ainda distante do ponto de inversão”, apontando para uma previsão de taxa de desemprego “em torno dos 17%”. José Miguel Moreira, do Montepio, salienta que a deterioração do mercado de trabalho é superior ao que esperava, e aponta para um taxa de desemprego em torno dos 17,5%. As empresas estão a tentar “adequar as suas estruturas laborais num contexto de menor procura, com o objectivo de assegurar a sua sobrevivência”, escreve Filipe Garcia, da IMF.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio
1. A taxa de desemprego fixou-se nos 16.9% no 4ºT2012, um resultado que traduz um novo forte agravamento face aos 15.8% observados no trimestre anterior, superior às nossas perspetivas, representando um valor 2.9 p.p. superior ao observado no trimestre homólogo de 2011 e o nível mais elevado da atual e da anterior série histórica. Quer a subida trimestral, quer a subida homóloga da taxa de desemprego resultaram de aumentos do desemprego e de quedas do emprego.
2. Considerando os dados ajustados de sazonalidade (cálculos do Departamento de Estudos do Montepio), a taxa de desemprego no 4ºT2012 é de 16.8% (15.8% no 3ºT2012), representado o nível mais elevado desde, pelo menos, o 1ºT1977 (considerando os dados ajustados de sazonalidade das séries trimestrais do Banco de Portugal). Refira-se igualmente que esta taxa de desemprego ajustada de sazonalidade no 4ºT2012 é superior em 0.4 p.p. à média das estimativas mensais avançadas pelo Eurostat ao longo do trimestre, o que deverá implicar uma revisão em alta da série do Eurostat, provavelmente acabando por vir corrigir o estranho ligeiro desagravamento que as estimativas mensais do Eurostat para a taxa de desemprego haviam reportado para o mês de setembro e a estabilização reportada para o mês de novembro.
3. Estes dados persistem assim a revelar um mercado em crescente deterioração, constituindo um dos principais constrangimentos para a economia portuguesa, devendo continuar a agravar-se, ademais que este ano de 2013 será particularmente difíceis, tendo em consideração o conjunto de medidas de ajustamento com que a economia se está a confrontar. De resto, em termos prospetivos, e refletindo este agravamento do desemprego superior ao esperado no 4ºT2012, revimos em alta a nossa previsão de taxa de desemprego para 2013, apontando-se agora para um valor em torno dos 17.5% (15.7% em 2012), devendo o pico trimestral máximo ser atingido somente entre o final e o início de 2014.
Paula Carvalho – Departamento de Estudos do Banco BPI
1. Os números divulgados pelo INE relativamente ao mercado de trabalho confirmam a tendência de agravamento que ainda persiste neste mercado e que deverá prolongar-se em 2013, embora possivelmente menos intensa. A informação do IEFP, embora respeitante a um universo não totalmente coincidente, revela uma tendência de crescimento dos pedidos de emprego ainda na casa dos dois dígitos; e o número de ofertas de emprego tem decrescido, confirmando o cenário ainda de deterioração.
2. A destacar nos números divulgados pelo INE, o ritmo de destruição de emprego, acima de 4% em termos homólogos; o aumento do número de desempregados, superior a 20% em termos médios anuais; alguns dos sectores mais afectados pelo desemprego são sectores em reestruturação, caso da construção, comércio por grosso e a retalho e Administração Pública, tendência que se encontra em linha com a desejada reorientação da economia nacional para actividades relacionadas com o sector transaccionável; mas outros sectores que mais contribuíram para este aumento do desemprego são tipicamente sectores transaccionáveis (Industria Transformadora) ou geralmente afectos a actividades de elevado valor acrescentado, que importa acarinhar – caso das actividades de consultoria, científica, técnicas e similares. Outro sinal preocupante, o aumento da população desencorajada e dos inactivos, o recuo da taxa de actividade. Em suma, a informação do mercado de trabalho é sem dúvida preocupante, na medida em que reflecte perda de capital humano, com impacto negativo no crescimento potencial da economia caso não ocorra uma rápida reconversão e reutilização da mão-de-obra. Sugerindo a importância de se activarem políticas de emprego consistentes.
3. A nossa previsão é de que a taxa média anual de desemprego aumente para valores em torno de 17% este ano, reflectindo a queda prolongada da actividade económica (em torno de 2%) e o facto de a dinâmica dos sectores mais expostos ao exterior, sectores com componente transaccionável, não ser ainda de dimensão suficiente para induzir um efeito de contágio positivo aos restantes sectores de actividade. No entanto, os primeiros sinais de viragem para um ciclo virtuoso poderão ocorrer já este ano, ao longo do segundo semestre, dependendo também do andamento da procura externa. Ainda que o contágio ao mercado laboral só deva ocorrer mais tarde, com um desfasamento, pois terá que ocorrer uma alteração das expectativas dos empresários e uma aceleração sustentada do ritmo de expansão da actividade.
4. A chegada a bom porto dependerá do sucesso na consolidação fiscal, de forma que a política orçamental deixe de impor um travão tão forte à actividade económica; do regresso a mercados interbancários menos fragmentados, possibilitando a melhoria das condições de financiamento às empresas de menor dimensão, mais dependentes do mercado doméstico; do esforço continuado e persistente do tecido empresarial português no sentido da diversificação e do aumento da penetração em mercados externos; da dinâmica da economia global e do andamento da situação política na Europa, onde se espera que prossigam os esforços no sentido de maior integração europeia.
Filipe Garcia – Informação de Mercados Financeiros
1. Esta subida do desemprego no último trimestre de 2012 reflecte a recessão e também o pessimismo dos empresários relativamente à evolução da economia em 2013, nomeadamente ao nível da procura interna, sobretudo nos serviços. As empresas estão provavelmente a tentar adequar as suas estruturas laborais num contexto de menor procura, com o objectivo de assegurar a sua sobrevivência.
2. A taxa de desemprego subiu bastante e, embora existam alguns sinais de estabilização económica em Portugal, o desemprego é uma variável 'lagging' pelo que só haverá melhorias ao nível da criação de emprego alguns meses após a inversão do ciclo económico, ou seja após o PIB começar a crescer.
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