Inflação caiu para 2,8% em 2012. José Miguel Moreira, do Montepio, explica a queda de inflação em 2012 e justifica a sua previsão de que o aumento de preços continue a abrandar em 2013, para a casa dos 1%
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio
1. A inflação, medida pela variação homóloga do IPC, estabilizou em dezembro nos 1.9%, um mínimo desde setembro de 2010, isto após 3 abrandamentos consecutivos, que vieram confirmar a retoma da tendência descendente evidenciada desde novembro de 2011, depois das acelerações observadas em julho e agosto. Este comportamento homólogo do IPC esteve associado a uma estabilização mensal, semelhante à registada no mês homólogo do ano anterior.
2. Em 2012, o IPC registou uma taxa de variação média anual de 2.8% (+3.7% em 2011). Para esta desaceleração terá contribuído o aumento menos expressivo dos preços dos produtos energéticos, tendo o respetivo índice passado de uma taxa de variação de 12.7% em 2011 para 9.6%. É ainda de referir a diminuição de 4.1 p.p. na taxa de variação média da classe da saúde, que se fixou em 0.4% em 2012, motivada em parte pela revisão dos preços dos medicamentos.
3. A taxa de variação média anual do IPC core (que exclui a energia e os bens alimentares não transformados) passou de 2.3% em 2011 para 1.5% em 2012. De referir que IHPC português, que ao contrário do IPC viu o crescimento homólogo acelerar em dezembro de 1.9% para 2.1%, revertendo a desaceleração do mês anterior, manteve-se a evidenciar um crescimento homólogo abaixo do estimado pelo Eurostat para a Zona Euro (que terá permanecido inalterado em +2.2%), o que acontece pela 3ª vez consecutiva desde junho de 2010, com essa diferença a situar-se em -0.1 p.p. (-0.3 p.p. no mês anterior).
4. Em termos prospetivos, continuamos a considerar que as atuais pressões inflacionistas assumem um carácter largamente temporário. Assim, depois da inflação no país (medida pela variação homóloga do IHPC) ter abrandado dos 3.6% observados em 2011 para 2.8% em 2012, continuando ainda acima da média da Zona Euro – refletindo, essencialmente, o impacto de alterações da tributação indireta e de preços condicionados por procedimentos de natureza administrativa em 2011 e 2012, no contexto das medidas de consolidação orçamental incluídas no programa de ajustamento económico e financeiro (PAEF) acordado com a troika –, prevemos que a dissipação desses efeitos temporários ao longo do presente ano, em conjugação com uma descida do preço médio anual do petróleo, um crescimento relativamente moderado dos preços de importação de bens não energéticos, a manutenção de uma forte moderação salarial – refletindo a intensa recessão económica que o país atravessa (apontamos para uma queda anual de 3.0% do PIB em 2012 e de 2.0% em 2013), bem como as novas medidas de austeridade já anunciadas –, e a continuação da deterioração do mercado laboral, se traduza num regresso da inflação para níveis mais modestos em 2013, em torno de 1%.
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