A crise actual é uma crise de dívida excessiva. Por essa razão, muitos têm dito que propor programas expansionistas significa tentar “curar a dívida com mais dívida”. Contudo, é precisamente isto que David Andolfatto propõe para os Estados Unidos. O argumento do economista da Fed de St. Louis faz sentido: o Estado americano está, neste momento, a pagar uma taxa de juro ridiculamente baixa, inferior a 1,8%. Isto significa duas coisas: que há grande procura por títulos do Tesouro e que mesmo investimentos públicos com um retorno baixo podem ser rentáveis (já que a rentabilidade real é determinada pelo retorno menos a taxa de juro do capital). Assim, pergunta: será que não é possível encontrar investimentos com um retorno superior a 1,8% e, ao mesmo tempo, fornecer aos mercados títulos de dívida altamente procurados? Além disto, também estamos a ler:
2. ULC and trade deficits, por Francesco Franco. Os Custos Unitários do Trabalho (CUT) estão no centro do alegado problema de competitividade das economias periféricas, mas são um indicador muito agregado. Num post no The Portuguese Economy, o professor da Universidade Nova mostra que os custos unitários da indústria manufactureira são um melhor “proxy” para captar os problemas de competitividade.
3. Measuring financial contagion, por Simon Johnson. A questão dos “spillovers” em crises financeiras tem sido muito debatida nos últimos três anos, sobretudo à medida que se tornou óbvio que a banca “too big to fail” estaria sempre disposta a invocá-lo para pedir apoios públicos. O antigo economista-chefe do FMI defende um esquema para sublimar este problema assente em três pilares: transparência de informação, simplificação “forçada” de procedimentos quando o primeiro ponto não foi possível e aperto regulatório aos grandes grupos (no New York Times).
4. Services without tears, por Jeffrey Sachs. O crescimento da produtividade nos serviços é reconhecidamente mais lento do que no caso dos bens. Jeffrey Sachs argumenta neste texto que a evolução das tecnologias de informação está a eliminar rapidamente este diferencial. E que, dentro de alguns anos, quando as economias se adaptarem a este novo regime, será possível ver os custos da educação e da saúde a caírem tão rapidamente como o custo dos bens de consumo (no Project Syndicate).
5. How Germany could save the euro?, por John Muellbauer. Os alemães rejeitam os eurobonds porque estes constituiriam um desincentivo à prossecução de reformas orçamentais e estruturais. A periferia desconfia da austeridade porque não vê resultados palpáveis (ao nível dos juros formados no mercado secundário) e porque não gosta dos resultados (recessão). Há alternativa? Segundo o economista britânico, sim: os países europeus com “rating” AAA podem reunir-se, emitir títulos garantidos conjuntamente e financiar as novas emissões de dívida da periferia com um “spread” ajustável todos os anos. Se a periferia se “portar bem”, os juros descerão gradualmente; caso contrário, serão revistos em alta, eliminando o “moral hazard”. Os juros revertem para os países que emprestam, mas segundo uma fórmula que paga mais aos que têm melhor situação orçamental.
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