Em três anos, Grillo tornou o M5S no maior partido italiano. Fonte: Alessia Pierdomenico/Bloomberg
O resultado de Beppe Grillo e do “Movimento 5 Estrelas” (M5S) nas eleições italianas foi muito melhor do que se esperava, mas não foi propriamente uma surpresa. O partido vinha em crescendo e a ganhar cada vez mais relevância na cena política em Itália. Esta evolução levou o think tank britânico “Demos” a publicar no início deste ano um estudo sobre o perfil dos apoiantes de Grillo.
Grande parte das análises feitas depois das eleições concluíam que o voto em Grillo foi, acima de tudo, uma manifestação de protesto. O estudo do “Demos” parece confirmar parte deste efeito, mas indicia também que se pode estar perante um fenómeno muito mais abrangente. O raio-x a 1865 fãs de Facebook do M5S dá um retrato completo sobre uma nova forma de fazer política.
“Grillo aproveitou as grandes preocupações em relação à forma como a política é conduzida em Itália. Ao correr numa plataforma anti-sistema e utilizando formas de comunicação modernas, ele combinou médium e mensagem para criar um movimento genuinamente novo”, escrevem os autores do estudo, Jamie Bartlett, Caterina Froio, Mark Littler e Duncan McDonnell. “O notável sucesso de Grillo mostra a eficácia da comunicação e da organização através da Internet – e o potencial que existe em falar directamente para milhões de pessoas: principalmente aquelas que estão desencantadas com as estruturas políticas existentes.”
Mas quem são estas pessoas? A caracterização do estudo aponta para que o apoiante médio seja homem, com mais de 30 anos, mais qualificado que a média, muito pessimista e desconfiado, tendencialmente de esquerda e com muito mais probabilidades de estar desempregado do que o italiano comum.
Segue uma caracterização rápida dos apoiantes de Grillo:
-63% são homens
-64% tem mais de 30 anos (entre os utilizadores italianos de Facebook, 51% tem mais de 30 anos)
-54% tem qualificação secundária e 27% tem formação superior (para toda a Itália, as percentagens são 34,8% e 11,7%)
–19% estão desempregados
– 9% diz que nunca participaria em qualquer tipo de boicote, 10% numa greve não autorizada e 17% na ocupação de uma fábrica ou outro edifício (as percentagens para o total da população italiana são 51%, 78% e 72%, respectivamente)
– 80% diz que não faz formalmente parte do partido
– 31% acha que a sua vida vai ser pior daqui a um ano e 66% acha o mesmo da situação económica do país (18% e 43%, em Itália)
– 83% não estão satisfeitos com a democracia na Itália
– Numa classificação de 1 a 10, em que 1 é mais à esquerda e 10 mais à direita, a classificação média dos apoiantes do M5S é 3,88
– Apenas 19% confia na União Europeia, só 8% confia no governo (12% em Itália), 3% nos partidos políticos (9%), 2% no parlamento (14%), 2% nos bancos (não há dados para Itália), 6% nas grandes empresas (33%) e 11% nos sindicatos (32%)
– 11% confia na imprensa e 4% na televisão (34% e 40%, em Itália)
– 76% confia na Internet e 61% em Pequenas e Médias Empresas (37% e 53%, em Itália)
Apesar de reconhecerem limitações de uma campanha centrada nas redes sociais (exclui uma parte do país que não tem internet ou que não acede ao Facebook ou Twitter), o think tank nota que o M5S tem também uma forte acção local, com reuniões e encontros no terreno. Além disso, o sucesso de Grillo parece significar que o M5S está a responder às preocupações dos italianos, bem como dos europeus. “Os partidos mainstream deveriam levar este movimento a sério e perceber o que está por trás das preocupações dos seus apoiantes e responder aos desafios que o movimento apresentou, assim como aprender com o sucesso que ele teve até agora”, conclui o estudo.
Em Outubro de 2009, um novo Movimento Nacional 5 Estrelas vai nascer. Nascerá na Internet. Os cidadãos italianos sem cadastro e que não seja membros de qualquer partido político poderão juntar-se… os partidos estão mortos. Eu não quero fundar 'um partido', um aparelho, uma estrutura de intermediação. Em vez disso, quero criar um Movimento com um programa
– Beppe Grillo, a 9 de Setembro de 2009
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