Uma prolongada redução salarial
A “desvalorização real” por que as economias da periferia estão a passar tem conduzido a resultados substancialmente diferentes consoante os casos. Se na Grécia a pressão exercida pelo desemprego galopante não parece suficiente para reduzir os salários (e preços internos), na Irlanda o processo foi rápido e robusto. Em apenas três anos, a economia irlandesa reduziu em cerca de 12% os seus Custos Unitários do Trabalho (CUT) e parece ter readquirido a competitividade externa suficiente para voltar a crescer. O contraste entre as duas situações salta à vista.
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Europa bem me quer, Europa mal me quer
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Com o projecto de integração europeia a enfrentar uma dura crise existencial, Eduardo Paz Ferreira com Luís Morais, Nuno Cunha Rodrigues e Teresa Moreira marcam esta semana o quarto de século de integração portuguesa (o mesmo número de anos do Instituto Europeu da Faculdade de Direito) com a conferência internacional “25 anos na União Europeia | 25 anos de Instituto Europeu: Onde estamos? Para onde vamos?”
Nos próximos três dias, no auditório da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, discute-se por isso a adesão portuguesa à UE. O rico programa do encontro explora as várias dimensões da integração, questionando o que Portugal sonhou com o projecto europeu e o que efectivamente conseguiu. A par da conferência, Eduardo Paz Ferreira organizou também o lançamento do livro “25 anos na União Europeia – 110 perspectivas”, onde junta dezenas de reflexões sobre que caminho é este que percorrermos há 25 anos, procurando perceber “quais as esperanças que perdemos pelo caminho, as certezas que sedimentamos e as interrogações que colocamos”, lê-se na apresentação do livro feita pelo também presidente do Instituto de Direito Económico, Financeiro e Fiscal.
Desafiados por um amável convite do professor Paz Ferreira para que contribuíssemos para essa reflexão, eu e a Elisabete Miranda fomos perguntar aos portugueses que balanço, afinal, fazem da integração. Bom, na verdade, pedimos emprestadas as perguntas que a Comissão Europeia tem feito aos portugueses nos últimos 25 anos, através do seu eurobarómetro semestral.
Partindo da evolução no tempo das respostas a três perguntas fundamentais, auxiliados com indicadores macroeconómicos e com a pesquisa sobre a forma como alguns dos principais momentos da integração foram marcando a agenda política e mediática do último quarto de século, chegámos a “Os portugueses no seu labirinto”, o texto incluído no livro que será publicado esta semana.
Trata-se de uma pequena viagem no tempo que reflecte a forma como a a euforia europeia do final dos anos 80 dá hoje lugar ao desalento que dita níveis de insatisfação e descrença nunca antes vistos em Portugal sobre o projecto europeu. Em baixo fica a representação gráfica (e pequenas passagens do texto) de alguns dos indicadores que marcam uma parte importante da nossa análise sobre como é que os portugueses têm sentido a integração portuguesa.
“Levando tudo em consideração, acha que Portugal beneficiou da sua participação na União Europeia?”*
* Pergunta do eurobarómetro da Comissão Europeia Fonte: Comissão Europeia
E se a troika estiver errada?
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Parlamento Português Fonte: Mario Proenca/Bloomberg
O diagnóstico e o receituário da Troika continuam equivocados, focando o défice interno em vez do défice externo, a má governação dos devedores em vez das práticas de crédito fácil, para não dizer predador, dos credores.
Mariana Abrantes de Sousa, em PPP Lusofonia
O enquadramento de políticas postas em prática através de programas de ajustamento da UE/FMI é, na minha perspectiva, inconsistente e perigoso. A crise da dívida soberana europeia é, na verdade, uma crise da balança de pagamentos e de dívida externa
Ricardo Cabral, numa audiência no Parlamento Europeu (17 Out.)
A implementação do programa de ajustamento português vai de vento em popa, com mais uma aprovação na avaliação de sexta-feira. O Governo recebeu elogios e vinca que quer ir até mais longe que troika. O PS apoia em linhas gerais o memorando de entendimento – que nasceu de resto com o seu acordo – afastando assim Portugal das confusões políticas gregas ou italianas. Estas são boas notícias? Depende. Se o diagnóstico traçado pela troika e consequentes prescrições de política estiverem correctos, então, sim, são boas notícias. São até muito boas notícias. Mas, se, pelo contrário, o diagnóstico e as políticas forem as erradas? Bom, nesse caso, como diz Ricardo Cabral, trata-se de um caminho perigoso.
Salários, ajustamento e incentivos
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“In order to improve labor cost competitiveness, wages in the private sector should follow the lead taken by the public sector in implementing sustained pay cuts”.
Troika, no comunicado da segunda revisão do PAEF de Portugal.
A redução salarial, que começou por ser apenas para o Estado mas que a troika quer ver generalizada a toda a economia, pode não ser a panaceia para todos os males que se tem referido. O impacto de um corte no sector privado, em particular, parece estar longe de ser tão eficaz para atingir os objectivos como um corte no sector público. Vejamos cada caso.
Um saltinho com o BCE à hiperinflação de Weimar
Fonte: BCE, “Cartoon on price stability for schools”
As últimas semanas têm sido marcadas por uma pressão crescente sobre o BCE para que intervenha mais activamente nos mercados de dívida pública. O banco central tem resistido, remetendo para os tratados da UE, e especificamente para a sua missão de garantir a estabilidade de preços na Zona Euro. Nunca como neste momento o banco central foi tão pressionado e questionado, apesar de Frankfurt não se poupar a esforços para explicar a sua posição: aqui ficam exemplos “educacionais” que a instituição disponibiliza, com destaque para “o monstro da inflação”…