Verdades inconvenientes sobre previsões económicas
Um “zé povinho” em porcelana num mercado de Lisboa Fonte: Mário Proença, Bloomberg
As previsões macroeconómicas são um elemento central na política económica moderna. Delas dependem as previsões fiscais dos orçamentos do Estado, é sobre elas que se constroem muitas das recomendações de política, e são um factor decisivo na formação das expectativas dos agentes económicos. Não admira por isso que Governo, FMI, Comissão Europeia, BCE, Banco de Portugal, OCDE, bancos comerciais, entre outras instituições publiquem com regularidade – e muita visibilidade – as suas estimativas de crescimento. Mas dada a sua importância será que sabemos o suficiente sobre elas? Ora veja algumas conclusões curiosas.
Mario Draghi está a fazer bluff?
Estará Mario Draghi a fazer “bluff” sobre os seus planos para salvar o euro? Esta é a pergunta que o Free Exchange deixa no ar. Vejamos porquê. Apesar de defender uma união bancária em toda a sua força (o que a teoria defende que implica supervisão comum de bancos e seguro pan-euro de depósitos comum) o Presidente do BCE parece estar a suavizar as condições dessa união, nomeadamente não defendendo um seguro de depósitos comum. Noutra frente, Draghi também parece cada vez mais relutante em usar o novo mecanismo de compra de obrigações aprovado pelo BCE, sinalizando que a condicionalidade associada será forte e que, mesmo com ela, não há garantias de intervenção do BCE, como sublinhou ontem para o caso espanhol. Além disso estamos também a ler:
2. EconoTrolls: An Illustrated Bestiary. Noah Smith faz uma inspirada caracterização das várias espécies de economistas. Vale (mesmo) a pena ler;
3. Target2 para miúdos. O Pedro Romano trocou-nos por outras paragens: vale a pena continuar a lê-lo agora no seu “Desvio Colossal”. Neste post salienta um dos temas mais quentes da política monetária: quem deve o quê a quem entre os bancos centrais do euro.
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Americanos escolhem dar mais poder ao Estado
Fonte: Bloomberg
Nestas eleições, os Estados Unidos discutiram aquilo que Portugal se prepara para debater nos próximos meses: que funções deve o Estado desempenhar e que peso deve ter na economia? O contraste entre Mitt Romney e Barack Obama foi claro ao longo da campanha e a reeleição do democrata aponta para uma preferência de ter “mais Estado”.
O primeiro mandato de Obama arrancou com a maior crise financeira desde a Grande Depressão e obrigou o Presidente a colocar o Governo Federal no centro da recuperação da economia, transferindo algum do poder de Wall Street para Washington. A vitória de ontem assegura a preservação e continuação de algumas dessas políticas. A reforma do sistema de saúde – Obamacare – é para ficar, tal como uma regulação mais apertada do sector financeiro. Os norte-americanos mais ricos vão pagar mais impostos.
O “Sr. euro” é Draghi, pelo menos para os EUA
Número de contactos entre Timothy Geithner e responsáveis envolvidos na crise Europeia entre Janeiro de 2010 e Junho de 2012
Fonte: “Tim Geithner and Europe’s phone number”, Jean Pisani-Ferry
“Para quem é que ligo, se quiser ligar para a Europa?” A pergunta retórica que é atribuída a Henry Kessinger – celebrizada por ilustrar da dificuldade de articular posições com a Europa – é finalmente respondida por Jean Pisani-Ferry, num “post” publicado recentemente no Bruegel, o think-tank que dirige. Uma análise aos registos de contactos (telefónicos e reuniões) entre Timothy Geithner, o secretário do Tesouro dos EUA, e vários responsáveis políticos envolvidos na crise europeia (entre Janeiro de 2010 e Junho de 2012), revela como o problema foi resolvido pelo actual governo norte-americano: Geithner ligou para mais de uma dezena de pessoas. Entre elas destacam-se a liderança do FMI (114 contactos), seguida dos presidentes dos BCE Trichet/Draghi (58 contactos). Schauble foi contactado apenas 36 vezes. E Van Rompuy é quase ignorado, mostram as conclusões de Pisani-Ferry.
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Multiplicador é o que um economista quiser
Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI, assinou a avaliação do FMI aos multiplicadores orçamentais Fonte: Stephen Jaffe Bloomberg
A polémica em torno dos multiplicadores orçamentais – ou seja, da estimativa do custo da austeridade no crescimento – não parece ter fim. O último desenvolvimento foi uma dura resposta da Comissão Europeia às contas do FMI. Para Bruxelas um euro de austeridade rouba menos de um euro ao crescimento, defendeu esta semana, deixando críticias metodológicas ao estudo de Washington. Para o debate em Portugal isso significa que o multiplicador orçamental que Vítor Gaspar diz estar implícito no Orçamento (0,8 pontos) é até superior ao de Bruxelas (entre 0,5 e 0,7 pontos). É caso para dizer que o multiplicador é o que um economista quiser.
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