Bernanke e Trichet não dançam o tango

10/03/2011
Colocado por: Rui Peres Jorge

 

Crédito: Chris Kleponis/Bloomberg News, na cimeira do G7 de Abril de 2006: Axel Weber (Bundesbank) à esquerda; Mário Draghi (Banco de Itália e provável sucessor de Trichet com desistência de Weber; Trichet e Bernanke.

 

“It takes two to tango” diz a expressão idiomática inglesa sobre a relevância da coordenação na acção humana. Pois bem, em termos de coordenação da política monetária, os líderes da Fed e do BCE definitivamente não dançam o tango. As diferenças sobre a forma como cada um se move ao som de uma mesma música económica estão aliás a ficar ainda mais evidentes com as reacções dos dois bancos centrais à subida do preço do petróleo.

 

Hoje a edição impressa do Negócios inclui um trabalho vasto sobre a subida do preço do petróleo, onde também se dá conta do actual sentimento no mercado relativo aos dois banqueiros – Bernanke está mais preocupado com emprego e Trichet mais focado nas pressões inflacionistas. 

 

“Vivem em planetas diferentes”, escreveu há uns meses a equipa de economistas do Barclays Capital sobre Jean-Claude Trichet e Ben Bernanke. A explicação para a avaliação está na diferença entre a importância que os líderes do BCE e Fed atribuem ao emprego na economia. Uma discrepância que o aumento do preço do petróleo só veio tornar mais evidente.

Na semana passada, Jean-Claude Trichet surpreendeu tudo e todos ao avisar que a “vigilância apertada [do BCE] está garantida de forma a conter os riscos para a estabilidade de preços”. A frase levou a maioria dos analistas a considerar que uma subida de juros está garantida para Abril. Apenas dois dias antes, Ben Bernanke tinha, por seu lado, defendido que “no máximo, [o aumento do preço do petróleo] implicará uma subida temporária e relativamente modesta da inflação” nos EUA, sinalizando antes a preocupação com o elevado desemprego no país.

 

Aí mostra-se também que a aversão de Bernanke a subir juros para fazer face a um choque petrolífero vem bem detrás, citando para isso o artigo “Systemic monetary policy and the effects of oil price shocks” (obrigado a Pedro Rodrigues pelo apontamento) co-assinado em 1997 com Mark Gertler, da Universidade de Nova Iorque, e Mark Watson, de Princeton, onde o agora presidente da Fed escreve que “uma parte substancial do impacto recessivo de um choque no preço do petróleo resulta do aperto endógeno da política monetária, em vez do aumento, em si, do preço do petróleo”.

 

A intransigência de Trichet em dançar com Bernanke será, em boa parte, explicada pela conhecida aversão alemã à inflação – bem evidente no mandato do BCE e na escolha de Axel Weber para, ainda esta semana, sinalizar que a autoridade monetária poderá subir juros até três vezes ainda este ano. Mas, com Weber de saída do BCE, deixando Mário Draghi na calha para substituir Trichet, será que o italiano estará disposto a tentar coordenar mais Bernanke, como sugere a foto de 2006?

 

Por enquanto, tudo indica que não, pelo menos a julgar pelas recentes declarações do presidente do banco de Itália à imprensa alemã e que foram bem evidenciadas pelo WSJ:

 

We sould all follow the german example

 

Rui Peres Jorge