O Banco de Portugal reviu em alta as previsões de crescimento da economia para 2014 e adoptou um tom optimista sobre o futuro da economia nacional, apontando para um crescimento da economia de 0,8% em 2014, suportado por exportações dinâmicas e um regresso do investimento e do consumo privado. Paula Carvalho, do BPI, diz que as projecções “parecem um pouco optimistas” especialmente no que diz respeito às exportações. José Miguel Moreira do Montepio também considera que o banco central pode estar demasiado optimista, mas especialmente no que diz respeito ao final deste ano. Para se confirmarem as previsões do banco central, a economia terá de crescer no último trimestre, o que dados os últimos anos não parece provável.
Paula Carvalho – Departamento de Estudos do Banco BPI
1. As projecções do Banco de Portugal para 2014 parecem um pouco optimistas, nomeadamente no que diz respeito às exportações, dado que se antecipa a manutenção de uma taxa de crescimento superior a 5%, em volume. Ora, não obstante os ganhos de quota de mercado, tendência que se deverá manter, existe algum risco para este cenário dado o contributo das exportações de combustíveis para a performance do ano 2013: até Outubro responsáveis por mais de 70% do crescimento das exportações. Dado que este comportamento se ficou a dever a aumento da capacidade instalada de refinação, com um efeito one-off em 2013, a manutenção da dinâmica das exportações só será possível com uma melhoria muito significativa nos restantes componentes. Eventualmente, o regresso da fileira do sector automóvel contribuindo para as vendas ao exterior ajudaria (contributo negativo em 2013) mas não é certo que tal venha a acontecer.
2. De destacar a expectativa de que a procura interna tenha um contributo positivo para o crescimento (ainda que ligeiro) em 2014, pela primeira vez desde início do processo de ajustamento, expectativa da qual partilhamos, dando especial ênfase ao investimento. Todavia, não parece também haver espaço para que este contributo seja mais expressivo o que poderia compensar um eventual desempenho menos favorável das exportações.
3. De facto, o esforço de consolidação vai continuar, com impacto sobretudo no consumo das famílias, o mercado de trabalho deverá, quando muito, estabilizar; as políticas de rendimentos continuarão muito cautelosas; e os níveis de endividamento mantêm-se elevados para além de que as condições marginais de acesso ao financiamento são penalizadoras. Pelo que não existem condições para que a procura interna venha a reassumir tão cedo o papel de motor da actividade económica.
José Miguel Moreira – Departamento de Estudos Económicos do Montepio
1. Previsões de Inverno do Banco de Portugal (BdP) vêm rever ligeiramente em alta as perspectivas de crescimento da economia portuguesa para este ano, apontando agora para uma queda anual do PIB de 1.5% (nas previsões de Outono havia defendido -1.6%) e perspectivando para 2014 um crescimento do PIB de 0.8% (+0.3%, nas previsões de verão), em linha com as estimativas do Governo e da troika. Para 2015, prevê um crescimento de 1.3%, neste caso, inferior ao perspectivado pela troika (+1.5%). Trata-se de previsões mais optimistas que as nossas (prevemos -1.6% para 2013 e +0.5% para 2014), embora reflectindo, aparentemente, sobretudo o facto de perspectivarem para este final de ano um cenário de crescimento mais negativo do que o do BdP (prevemos uma contracção em cadeia de -0.2%, quando as previsões do BdP se revelam consistentes com uma estabilização ou um crescimento marginal).
2. O Banco de Portugal (BdP), no Boletim Económico de Inverno, divulgado no dia 10 de Dezembro, veio rever ligeiramente em alta as perspectivas de crescimento da economia portuguesa para 2013, apontando agora para uma queda anual do PIB de 1.5%, quando no Boletim Económico de Verão perspectivava uma quebra de 2.0% e no Boletim Económico de Outono (Outubro) uma contracção de 1.6%. Para 2014 o BdP veio apontar para um crescimento do PIB de 0.8% em 2014 (+0.3%, nas previsões de verão), em linha com as estimativas do Governo e da troika. Neste Boletim Económico de Inverno o BdP publica também pela primeira vez as suas previsões para 2015, antecipando um crescimento do PIB de 1.3%, neste caso inferior ao perspectivado pela troika (+1.5%).
3. Estas previsões do BdP passam a revelar-se ligeiramente mais favoráveis do que as por nós defendidas para 2013, continuando-se a prever uma queda de 1.6%, com este nosso cenário a ter como pressuposto uma retracção da economia neste último trimestre do ano – o nosso indicador compósito para o PIB sugere ser de -0.2% –, com a economia a ser afectada no último trimestre do ano pelo anúncio de um incremento na austeridade no âmbito da Proposta de OE 2014, admitindo-se que as exportações líquidas compensem parcialmente a contracção da procura interna. Mas este cenário não está isento de riscos. Os riscos desta previsão dependem sobretudo da forma como os agentes económicos incorporarem nas suas decisões de investimento e de consumo as novas medidas de austeridade que vigorarão no próximo ano. Basta recordar que, nos últimos anos, os finais de ano foram marcados por fortes quedas no PIB, justamente devido aos anúncios de novas medidas, que penalizaram a confiança dos agentes económicos, levando-os a reverem em baixa as suas perspectivas para o futuro.
4. Por outro lado, refira-se que o crédito fiscal ao investimento poderá ter um impacto superior ao esperado durante o 4º trimestre, enquanto a aceleração da Zona Euro (que deverá crescer mais do que os meros +0.1% do 3ºT2013) poderá beneficiar mais intensamente as exportações portuguesas – que, apesar do esforço de diversificação, ainda estão muito direccionadas para os nossos parceiros europeus, nomeadamente Espanha – e, dessa forma, suportar o crescimento económico. Como referido, esperamos que o impacto negativo sobre a procura interna seja substancialmente inferior ao registado nos anos anteriores, sobretudo porque as medidas de austeridade não são tão generalizadas e os agentes económicos parecem não revelar perspectivas tão negativas, já que o crescimento observado nos dois últimos trimestres trouxe a percepção de que existe uma “luz ao fundo do túnel” e que a economia não caiu numa espiral recessiva. Por outro lado, esperamos um crescimento da procura externa (que permitirá amortecer o efeito da contracção da procura interna), algo que não sucedeu nos dois anos anteriores, em que a Zona Euro estava em recessão. A favorecer o crescimento económico poderá estar basicamente um maior crescimento das exportações para a Zona Euro, os efeitos desfasados resultantes da redução da taxa de desemprego no 2º e no 3º trimestre do ano e uma melhoria das perspectivas dos agentes económicos para o médio prazo, que pode levar a que decisões de investimento e de consumo que foram adiadas nos últimos anos se consubstanciem agora em despesa.
5. As previsões para 2014 acabam por ser bastante influenciadas pelas perspectivas de comportamento da economia neste final de ano, sendo que a este nível as previsões do BdP aparentam ser bem mais optimistas do que as nossas, atendendo a que, se admitirmos a ausência de revisões aos dados do PIB dos trimestres anteriores, para que a economia contraia em 2013 apenas os 1.5% avançados pelo BdP, o PIB terá no mínimo que estabilizar em cadeia no 4ºT2013 e no máximo crescer 0.4%, um intervalo de crescimento que cai fora do nosso cenário central de -0.2% (previsão cujos últimos dados mensais disponibilizados indiciam, ademais, riscos descendentes). Na verdade, se admitirmos que a economia revelará no 4ºT2013 um comportamento em linha com o centro do intervalo implícito nas previsões do BdP (+0.2%), o padrão de crescimento em cadeia por nós defendido ao longo de 2014 (e que pressupõe inclusive uma nova ligeira queda no 1ºT2014, permitirá que o crescimento anual do PIB alcance os 0.8% do BdP.
6. Assim, para 2014, e porque continuamos a considerar o nosso cenário de ligeira contracção da actividade no final deste ano mais plausível, permanecemos a apontar para um crescimento anual do PIB de 0.5% no próximo ano, inferior aos 0.8% previstos pela troika, pelo Governo e pelo BdP, mas ainda assim ligeiramente acima dos 0.4% recentemente antecipados pela OCDE (19-nov). O nosso cenário central é de que a economia tenha um primeiro trimestre difícil, já que a procura interna será condicionada pela entrada em vigor das medidas constantes no OE-2014. Assim, será sobretudo a partir da primavera de 2014 que apontamos para que a economia regresse aos crescimentos consistentes (mas moderados), à medida que o impacto das novas medidas de austeridade se dilui e com a procura externa, nomeadamente a proveniente da Zona Euro, a dever acelerar ao longo do ano.
- Carlos Costa e o colapso do BES. Negligente ou injustiçado? - 23/03/2017
- Os desequilíbrios excessivos que podem tramar Portugal - 21/03/2017
- A década perdida portuguesa em sete gráficos - 15/12/2016