Cristina Semblano: “todos sabem qual vai ser o desfecho da situação em Portugal”
No dia em que a Moody's baixou (mais uma vez) o rating a Portugal (e não só), a agência Lusa publicava uma notícia com a análise de economistas portugueses em França. Cristina Semblano, economista da CGD a residir no país faz uma análise desassombrada sobre a realidade portuguesa, constatando que, pelo menos por enquanto, não há aos olhos dos mercados diferenças significativas entre Portugal e Grécia. Eis o retrato que deixou (bolds nossos):
A situação em Portugal “é muito semelhante à da Grécia”, afirma a ecomista, ressalvando o facto de o acordo com Portugal ter sido feito um ano depois. “Os passos seguidos são os mesmos: as taxas de juro da dívida portuguesa no mercado secundário continuam a subir, prova de que os mercados também não foram tranquilizados com o acordo, a dívida portuguesa também aumentou, e, tal como a Grécia, Portugal também entrou na recessão“, argumentou.
Empresários do móvel também vão à China
Durão Barroso e Herman Van Rompuy hoje em Pequim com Wen Jiabao Fonte: Nelson Ching/Bloomberg
Tudo no mesmo dia: hoje, em Washington, o presidente Obama recebe Xi Jinping, o futuro presidente da China (análise de há dois dias no NYT); Umas horas antes, em Pequim, Wen Jiabao, o primeiro ministro, recebeu Durão Barroso e Herman Van Rompuy prometendo comprar dívida europeia. Ao mesmo tempo, em Portugal, é anunciada a visita de empresários de mobiliário de Paços de Ferreira a “Xangai, Anshun, Guizhan, Shunde, Guagzhou, Zuhai e Macau”. De Paços de Ferreira a Washington, passando por Bruxelas o lema dos tempos que correm parece bem sintetizado no comunicado que os empresários da capital do móvel enviaram à imprensa: “oportunidade a não perder” (E pode não durar sempre, avisa por exemplo a The Economist que desde este ano dedica uma secção inteira à China).
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Economia em recessão há cinco trimestres consecutivos
O PIB contraiu 1,5% no ano passado. José Miguel Moreira, do Montepio, explica os números divulgados hoje pelo INE, lembrando que o 4º trimestre de 2011 foi já o quinto consecutivo com recessão em Portugal, uma análise que é também sublinhada pelo Núcleo de Estudos de Conjuntura sobre a Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica, que prevê um 2012 ainda mais dificil, com uma queda do PIB superior a 3%. Bárbara Marques, do Millennium bcp, também aponta para uma recessão entre 3% e 3,5% em 2012, puxada pela forte queda da procura interna e avisa para os riscos na frente externa.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium BCP, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
45 edifícios incendiados em Atenas
Em Atenas, parece, não há piegas: 138 feridos, 67 detidos e 45 edifícios incendiados é o balanço dos protestos de domingo contra as medidas de austeridade que garantirão o acesso o segundo pacote de financiamento.
Laffer contra troika
Vítor Gaspar, a 14 de Julho, quando anunciou a sobretaxa de IRS e a antecipação do aumento do IVA sobre a energia Fonte: Mário Proença/Bloomberg
A curva de Laffer é um dos termos preferidos e mais polémicos no debate económico. A ideia teórica é intuitiva: taxas mais elevadas de imposto rendem mais receita apenas até um determinado ponto. Isto porque há um momento a partir do qual um aumento das taxas gera perda de receita fiscal, devido a maior evasão e ao estrangulamento da economia. Não é assim de estranhar que sempre que há um aumento da pressão fiscal sobre a economia, o debate sobre se arriscamos passar esse ponto teórico retorne – normalmente alimentado pelos que mais receiam o excessivo peso da carga fiscal e para irritação dos que defendem um papel importante do Estado na provisão de serviços públicos.
Mas esta semana no Parlamento aconteceu algo pouco frequente: perante os últimos dados de execução orçamental, direita e esquerda admitiram implicitamente esse risco. E o governo não o afastou. Os maus resultados em termos de receita de IVA e de contribuições sociais no final do ano fazem temer o pior. E podem ajudar a perceber o que levou Gaspar a desafiar o Banco de Portugal e a troika (o FMI em particular) nas várias propostas de desvalorização fiscal.
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