Anima-te Mourinho: nos ratings, nem todo o lixo é igual

03/08/2011
Colocado por: Rui Peres Jorge

A decisão da Moody's de cortar o rating português para o lixo indignou Portugal. De tal forma que até José Mourinho saiu à rua mascarado de analista económico para garantir que “Portugal está longe de ser lixo”. Sobre este tema, e enquanto preparava um trabalho sobre as agências de rating que o Negócios publicou ontem (ver mais abaixo), cruzei-me com uma tabela que poderá eventualmente aliviar algumas angústias, nomeadamente a de Mourinho. Isto porque mostra bem, nos ratings, que nem todo o lixo é igual. 

 

A tabela inserida num artigo de António Afonso e Pedro Gomes publicado no ISEG evidencia os vários níveis de notação de risco das três principais agências de notação de risco, estabelecendo a grande divisão entre as notações “investment grade” (a metade superior da tabela) e as “speculative grade” (a metade inferior). As notas incluidas neste último grupo são todas baptizadas de “lixo”, fundamentalmente porque muitos investidores institucionais deixam de investir na metade inferior da tabela. Mas sendo lixo, há diferenças.

 

Portugal, por exemplo, é para a Moody's um lixo “Ba2”, ou seja, que “está envolto em incerteza, mas provavelmente cumprirá com as suas obrigações”. A Grécia, por seu lado, é um lixo “Ca”, isto é, está “próximo do default com possibilidade de recuperação”. Já a Irlanda, que também é lixo (“Ba1”), é um pouquinho melhor que Portugal. 

 

 

 

Fonte: Afonso, A. e Gomes, P. “Do fiscal imbalances deteriorate sovereign debt ratings?”

 

 

Agências contribuem para a crise 

 

Apenas algumas notas sobre o artigo que publicámos esta semana sobre as agências:

 

1) Começa a criar-se um consenso de que, pelo menos nas crises, as agências criam instabilidade financeira. Contribuem para esta ideia a análise de José Jorge, economista da Faculdade de Economia do Porto e um artigo publicado recentemente no FMI com título: “Sovereign ratings news and Financial Markets Spillovers: Evidence from the European Debt Crisis“;

 

2) As decisões das agências têm mais impacto nas descidas, uma conclusão de António Afonso, Davide Furceri e Pedro Gomes que já haviamos destacado no massa monetária. Afonso e Gomes contribuem também com um outro artigo onde se mostra que, pelo menos até à crise, as agências foram mais duras com os países periféricos do que com os do centro; E ainda com um trabalho onde estudam os indicadores mais relevantes para estas empresas.

 

3) Finalmente, uma agência de ratings europeia pode estar para nascer através de uma iniciativa da Roland Berger, já noticiada pelo Negócios. Sobre quem são os dono das agências de rating vale a pena lembrar que a Fitch já é europeia e dar uma vista de olhos a este trabalho do Expansión 

 

Rui Peres Jorge