Afinal, há autarcas “dinossauros” que vão a votos… mas no Sporting

04/03/2013
Colocado por: Bruno Simões

 

Fernando Ruas preside à Comissão de Honra de Bruno Carvalho. Fonte: Miguel Baltazar/Negócios

 

A polémica da limitação de mandatos continua a dar muito que falar. Os maiores partidos acham que a lei não proíbe a candidatura de autarcas com três ou mais mandatos a outra câmara, e o PSD até vai levar a votos sete autarcas nessa situação. Mas há quem diga que a limitação é total e que essas candidaturas violam o espírito da Lei, podendo mesmo recorrer aos tribunais. Seja como for, uma coisa é já certa: vários “dinossauros” autárquicos – assim baptizados pelo número de anos que levam à frente do mesmo município – encontraram uma forma de fintar um eventual impedimento de testar as urnas. Um número considerável destes políticos locais vai candidatar-se, sim, e já este mês mas… às eleições do Sporting.

 

Um desses autarcas é Fernando Ruas. O ainda presidente da poderosa Associação Nacional de Municípios (ANMP), que o líder da Transparência e Integridade, Luís de Sousa, classifica como “um dos maiores grupos de pressão do País”, é também presidente da câmara de Viseu. Sucede que, por se encontrar a cumprir o sexto mandato (é autarca desde 1990), Fernando Ruas vai agora caminhar para um desafio a nível nacional. No Governo? Não propriamente (pelo menos para já). Fernando Ruas, que foi o mandatário das duas candidaturas de Passos Coelho à presidência do PSD, é agora o mandatário da lista do candidato Bruno de Carvalho.

 

Bruno de Carvalho é o candidato que mais autarcas atrai. É o caso de Jaime Soares (PSD) de Vila Nova de Poiares que, a par de Mesquita Machado (Braga), é dos únicos autarcas que está à frente de uma câmara desde 1976. O autarca é candidato a presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sporting. Mas a contabilidade não se fica por aqui: o candidato a vice-presidente deste órgão é Rui Solheiro, presidente da câmara de Melgaço e líder dos autarcas socialistas (bem como um dos vice-presidentes da ANMP). O candidato Bruno de Carvalho tem ainda nas suas listas Artur Torres Pereira, ex-presidente da ANMP, como número dois da lista para o Conselho Directivo do Sporting.

 

A relação entre futebol e autarcas não é nova. O Sporting foi presidido por Pedro Santana Lopes entre 1995 e 1997 (e viria a ser presidente da câmara de Lisboa entre 2002 e 2005, tendo desempenhado, nesse período, o cargo de primeiro-ministro de Portugal). Também Mesquita Machado (PS), que vai igualmente ter de sair de cena na capital do Baixo Minho (deixando entrar em cena o actual vice-presidente Vítor de Sousa), está ligado ao futebol: é o presidente do Conselho Geral do Sporting de Braga. No Sporting, a tendência ganha agora capítulos relevantes. E não é só pela mão de Bruno Carvalho.

 

Carlos Severino assessora Carlos Teixeira em Loures

 

Também o candidato ao Sporting Carlos Severino conta com um outro autarca em fim de linha: Carlos Teixeira (PS), que está à frente da câmara de Loures e que também está impedido de se recandidatar, vai disputar com Jaime Soares o lugar de presidente da Mesa da Assembleia Geral. E Carlos Severino também não é estranho ao meio autárquico: era assessor de Carlos Teixeira, precisamente em Loures.

 

Segundo avançou a imprensa, também o actual presidente da câmara de Oliveira de Azeméis, o ex-presidente da Liga Hermínio Loureiro, foi sondado, mas para ser um dos candidatos às eleições, que se realizam a 23 do corrente mês de Março.

 

Fica assim evidente que estes autarcas vão aproveitar o acto eleitoral que se realiza em breve, num dos históricos do futebol português, para darem continuidade à sua carreira. Desta forma, poderão reduzir-se o número de candidatos à liderança das polémicas comunidades intermunicipais.

 

Recorde-se que, no final do ano passado, o Governo anunciou, na reformulação da lei das atribuições e competências das autarquias, que iria criar 37 novos cargos nas comunidades intermunicipais (CIM), na respectiva comissão executiva, que representarão, na prática, os líderes destas estruturas. Estes cargos serão remunerados e houve quem os visse como “fatos à medida” destes autarcas em fim de mandato.

Bruno Simões