Actividade económica mais frágil, mede o INE

19/01/2011
Colocado por: Rui Peres Jorge

Nota editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, MillenniumBCP e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.  

 

A actividade económica em Portugal está a abrandar, mede o INE. José Miguel Moreira, do Montepio e Bárbara Marques, do MillenniumBCP analisam a síntese económica de conjuntura do instituto.

 

Bárbara Marques  – Gabinete de Estudos do MillenniumBCP

 

1) A síntese económica de conjuntura do INE apresenta indicadores que sugerem um abrandamento no desempenho da actividade económica no 4º trimestre. Este menor dinamismo é explicado pelo abrandamento da actividade global nos diversos sectores produtivos (industrial, construção e serviços), como indica a deterioração expressiva do clima de confiança e a tendência decrescente nas perspectivas de actividade.

 

2) O contributo da procura interna tenderá a continuar negativo como sugerido pela continuação da tendência decrescente do indicador de investimento e a quebra no consumo privado, nomeadamente no consumo corrente. A conjuntura menos favorável em 2011, e sobretudo efeitos de cariz fiscal,  terão contribuído para a  antecipação do consumo por parte das famílias no que respeita a bens duradouros. Contudo, isto terá implicações na concretização de despesa em 2011.

 

3) Em 2010, verificou-se um bom desempenho da procura externa quer deverá ter continuidade no início de 2011, tendo em conta os indícios de alguma reaceleração económica nos principais países de destino das exportações portuguesas. 

 

4) Os valores contidos na sintese não surpreendem e confirmam a expectativa generalizada de que a evolução da procura externa líquida será determinante para atenuar os efeitos recessivos que decorrem do processo  – incontornável  – de ajustamento da procura interna em Portugal. Este processo já teve início em 2010, pois já se verificou uma alteração sigificativa nas necessidades financeiras do sector privado, mas será mais intenso em 2011, reforçado pelo esforço de consolidação orçamental do sector publico”  

 

 

José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio

 

1) O Indicador de Actividade Económica do INE – que sintetiza o comportamento das variáveis económicas com base na média móvel de três meses das respectivas variações homólogas – desacelerou, em Novembro, 0.2 p.p., para 1.6% (mínimo desde Maio), depois de também já ter desacelerado nos dois meses anteriores, interrompendo o perfil crescente observado desde Agosto de 2009. Não obstante, manteve-se em terreno positivo pelo 9º mês consecutivo.

 

2) A desaceleração da Actividade Económica neste período, face aos três meses terminados em Outubro, resultou do abrandamento observado no Indicador de Consumo Privado, resultado do contributo negativo da componente de Consumo Não-Duradouro (já que a de Consumo Duradouro acelerou), e de um agravamento da queda do Indicador de Investimento em Capital Fixo (FBCF), reflectindo a evolução negativa da componente de Construção. Relativamente ao Comércio Internacional, as Importações e Exportações de Bens (em termos nominais) evidenciaram crescimentos homólogos menos expressivos.

 

3) Assim, admitindo que o indicador se mantém no actual nível no último mês do 4ºT2010, o Indicador de Actividade Económica do INE encontra-se a sinalizar uma contracção trimestral de 0.3%, que passará a ser de 0.6% se assumirmos que, em Dezembro, o Indicador irá desacelerar ao ritmo médio evidenciado nos dois meses anteriores, algo que, no entanto, vai contra o nosso cenário de uma estagnação da actividade no último trimestre do ano. Com efeito, acreditamos que a economia tenha sido beneficiada por um efeito de antecipação nas aquisições de Bens Duradouros por parte de alguns agentes, atendendo ao agravamento da carga fiscal neste início de ano, continuando-se, assim, a estimar que o Consumo Privado tenha expandido cerca de 0.6%, no 4ºT2010, conseguindo contrariar o contributo negativo que esperamos ter advindo das Exportações Líquidas – cujas Importações terão registado um forte acréscimo, impulsionadas pelo extraordinário aumento das Vendas de Carros, observado no final do trimestre -, o que, no âmbito de um contributo do Consumo Público que esperamos negligenciável e de um Investimento que deverá ter sido algo beneficiado na sua componente de Material de Transporte, mas, por outro lado, penalizado pela de Construção, terá permitido ao PIB manter-se relativamente estagnado.

 

4) Trata-se de uma previsão que contrasta com a das principais entidades, designadamente, do Banco de Portugal, que, ao avançar com uma expansão média anual do PIB de 1.3%, em 2010, tem implícita uma contracção trimestral entre 0.7% e 1.1%, no 4ºT2010.

 

 

Rui Peres Jorge