Mario Draghi na conferência de imprensa de 8 de Março de 2012 Fonte: Hannelore Foerster/Bloomberg
O Negócios questionou por e-mail cinco especialistas em economia financeira e política monetária sobre o papel do BCE e de Mario Draghi nos últimos meses, com especial enfoque nos dois empréstimos a três anos com que o banco central cedeu um bilião de euros aos bancos europeus e na flexibilização das regras de colateral para sete países, incluindo Portugal.
As respostas chegaram por telefone (Charles Wyplosz e Jacob Kirkegaard) e por e-mail (Daniel Gros, Frank Westermann e Ricardo Reis) e foram contributos valiosos para os dois trabalhos que o Negócios publicou ontem e hoje sobre o tema na sua edição em papel. Agora publicamos, em vários “posts” no massa monetária, as respostas completas dos cinco economistas a questões centrais para reflectir sobre o BCE e o futuro do euro.
Estas acções do BCE significam que a Zona Euro poderá ser salva sem o BCE actuar, efectivamente, como o credor de último recurso dos governos?
[Jacob Kirkegaard] Os alemães sempre se opuseram e vão opor à compra de obrigações soberanas de forma directa. Mas na verdade nunca se opuseram aos empréstimos a bancos. Não penso, por isso, que estejam demasiado preocupados ou irritados com estas medidas do BCE. A forma como vejo, por exemplo, a carta de Weidmann a Draghi é mais uma tomada de posição, do que uma exigência. [carta tornada pública há uma semana em que o presidente do Bundesbank criticou o risco assumido pelo Eurosistema e admitiu a necessidade dos activos do seu banco sobre o Eurosistema terem de ser colateralizados]
Dada a importância do sistema bancário na Europa, o BCE ao ser o credor de último recurso dos bancos é, no fundo também, o credor de último recurso dos governos.
[Charles Wyplosz] Creio que será possível, mas vamos ver: o BCE emprestou agora 1 bilião de euros. Eu acho que uma barreira de segurança necessitará será de 3 a 4 biliões. Os governos passaram meses para conseguir 500 mil milhões, e agora falam em fundir Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) com o Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira (MEE) para atingirem os 750 mil milhões. Agora compare: o BCE fez isso em dois dias. É por isso que creio que o BCE acabará por ter de avançar mais dinheiro. Mas neste modelo, este ritmo terá de ser dado pelos bancos.
[Frank Westermann] A diferença entre financiamento directo e financiamento indirecto dos soberanos não é assim tão grande. Em qualquer dos casos, não se trata de um caso típico de manual de credor de último recurso. Se o BCE procurar estabilizar os preços dos activos acima dos seus níveis de equilíbrio, isto iria contra o seu mandato e é questionável do ponto de vista económico. Veja-se, por exemplo, que as re-compras de dívida pública no mercados tipicamente beneficiam os detentores das obrigações, mas não os contribuintes dos países endividados. Fio por isso que programas comparáveis em crises de dívida anteriores na América Latina foram terminadas rapidamente.
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