O excelente resultado de Beppe Grillo nas eleições legislativas italianas carrega uma dose significativa de ironia, com uns pozinhos de justiça karmica. Apenas três anos depois de ter criado o “Movimento 5 Estrelas”, o ex-comediante transformou-o no maior partido de Itália, conquistando mais de um quarto dos eleitores e tornando-se na força política chave para decidir o futuro de Itália.
Grillo correu contra os esforços de austeridade, propondo reformas do sistema político e um referendo à saída do euro. Recheados de sátira e populismo, os seus comícios misturam política económica e stand up, propostas sérias com manguitos aos outros candidatos. No entanto, a sua grande bandeira é a luta contra a corrupção. Curiosamente, foi exactamente esse o tema que fez com que fosse expulso da televisão pública italiana há quase 27 anos.
Em Novembro de 1986, Grillo participava no programa Fantastico 7, na Rai 1. No segmento que pode ver em baixo, critica e goza com o socialista Bettino Craxi, na altura primeiro-ministro. A piada que mais incomodou está no final do vídeo e refere-se a uma visita oficial de Craxi à China. É qualquer coisa como:
A cena passa-se na China. Eram todos socialistas, estavam lá com a delegação a comer… A determinado momento, [o braço direito de Craxi, Claudio] Martelli chamou Craxi e disse-lhe: “Mas repare, eles são um bilião e são todos socialistas?” E Craxi disse: “Sim, porquê”? “Mas, se são todos socialistas, a quem roubam?”
Grillo acabaria expulso da Rai e de certa forma alienado da televisão italiana durante vários anos. Craxi acabou condenado a 27 anos de prisão por aceitar subornos, pena que nunca cumpriu devido à sua fuga para a Tunísia.
Como se costuma dizer, what goes around, comes around. No caso da política italiana e de fenómenos como Grillo, o ditado não podia ser mais acertado.
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