Nasceu na Grécia, espalhou-se pelo mundo que consideramos desenvolvido, mas está agora em apuros. E logo na terra-mãe. Jean Quatremer, no seu blogue Coulisses de Bruxelles, faz um retrato desolador da avaliação dos gregos sobre a política interna. Por exemplo: quase um quarto deseja um líder forte e entende que o Parlamento não pode ser um obstáculo para reformar o país.
O jornalista francês escreve sobre a crise na democracia grega decorrente da crise da dívida pública e da intervenção externa. Segundo uma recente sondagem:
a) 30% dos inquiridos preferia que o país fosse conduzido por um grupo de especialistas e tecnocratas em vez de políticos
b) 22,7% quer um líder forte, e o Parlamento não deve ser um impedimento para reformar o país
c) Menos de um quarto dos inquiridos acredita que um governo eleito conseguirá resolver a crise
d) Deste descrédito na política interna resulta, continua o jornalista, que 53% dos gregos apoiem o controlo apertado da UE e do FMI (contra 44%), isto apesar da grande maioria discordar da austeridade.
A Grécia, tal como Portugal, acabou com uma ditadura e abraçou a democracia em 1974. Até pode bem ser que a corrupção na Grécia seja superior do que em Portugal, e que os gregos tenham mais razões de desconfiança do seu poder político. Mas não ouvir os comentários nas ruas de Portugal e achar que tudo fica por aí, é arriscar demasiado.
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