A crise segundo Lucas

02/06/2011
Colocado por: Pedro Romano

Robert Lucas publicou um interessante conjunto de slides onde expõe a sua visão acerca da Grande Recessão. A narrativa do Nobel de 1995 contrasta com a do Nobel de 2008, que tem defendido que a actual crise se arrasta devido à repetição dos erros cometidos por Roosevelt em 1937: retirar estímulos à economia perante uma recuperação ainda tímida.

 

As notas de Lucas lêem-se rápido e fornecem uma explicação “alternativa” da crise americana. Para quem não tiver tempo, aqui ficam os principais pontos:

– A Grande Depressão começou com o “crash” de 1929, que obrigou as famílias a diminuirem as despesas para restaurarem o seu “balanço”.

 

– Mas o “crash” não explica tudo. A redução de mais de 30% do volume do PIB americano deveu-se em grande parte à crise subsequente do sector bancário, precipitada por uma corrida aos bancos.

 

– A Reserva Federal poderia ter actuado, mas não só não o fez como até seguiu uma política monetária restritiva, o que intensificou a crise. Isto é a perspectiva monetarista clássica (Friedman e Schwartz).

 

– Em 1934, a recessão estava a desaparecer. Porém, a recuperação completa só chegou em 1941. Porquê? Segundo Keynes, foi o aumento de despesa relacionado com a guerra. Segundo Lucas, o problema foram as políticas “contracíclicas” seguidas durante a crise: proteccionismo, cartelização na fixação de salários, a “demonização” dos investidores.

 

 

E a Grande Recessão?

 

– A Grande Recessão tem alguns pontos de contacto. Também começou na bolsa e propagou-se à banca, apesar de o mecanismo ter sido diferente: não houve uma corrida aos bancos, mas sim uma paralisação do mercado interbancário devido ao elevado risco dos empréstimos (grande incerteza em relação à qualidade do balanço dos bancos).

 

– Desta vez, a Fed fez precisamente o contrário do que fez na década de 1930: aumentou o seu balanço e inundou a economia de liquidez. Em 2009, o problema da liquidez já não existia: os bancos tinham reservas em excesso.

 

– A Grande Recessão, tomada à letra (contracção do PIB), também acabou.

 

– Contudo, o desemprego continua elevado e o investimento não arranca. Porquê? Para Lucas, os aumentos de impostos esperados (para cobrir o plano de saúde, a incerteza em torno da regulação e o aumento do peso do Estado são o factor que está a impedir o sector privado de aumentar de novo a sua despesa.

 

– No último século, os EUA permaneceram com um nível de PIB per capita entre 20 a 30% superior ao da Europa como um todo, algo que Lucas atribui ao peso do Estado. Agora, há, aparentemente, uma subida idêntica do peso do Estado nos EUA. “Se isso for verdade, é possível que a fraca recuperação que tivemos até agora seja toda a recuperação que vamos ter”, escreve Lucas.

  

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