A 20 de Junho de 2013, o Pornhub colocou online não um vídeo, mas um gráfico de linhas. As Finais da NBA entre os Miami Heat e os San Antonio Spurs tinham acabado de terminar e o gráfico mostrava como os acessos ao auto-intitulado maior site pornográfico do mundo* caíram à medida que o interesse pelo basquetebol crescia. Mostrava ainda outra coisa: que o tráfego no site afundou muito mais nas regiões em torno de Miami e San Antonio do que na média dos Estados Unidos.
Este era o gráfico:
Evolução do tráfego do Pornhub durante as Finais da NBA de 2013.
Foi o primeiro post de sempre do Pornhub Insights. Um blogue criado para aproveitar a gigantesca base de dados da empresa, de forma a tirar conclusões sobre quem acede ao site e como o faz. A fórmula resultou e os responsáveis do site resolveram apostar definitivamente neste tipo de conteúdo para chamar a atenção do público.
“Há muito tempo que temos acesso a estes dados e inicialmente foi algo que apenas utilizávamos para divertimento de todos no escritório. A determinada altura pensámos “por que não juntar isto tudo em algo digerível, que as pessoas em todo o mundo possam ler e identificar-se?” Quando há grandes eventos como o Campeonato de Mundo [de Futebol], o Super Bowl ou qualquer coisa relacionada com a Kim Kardashian, é absolutamente fascinante ser capaz de relacionar esses eventos internacionais a ganhos e perdas de tráfego.”
As palavras são do vice-presidente do Pornhub, Corey Price, entrevistado por email pelo Negócios. Este tipo de iniciativa tem a vantagem de permitir a um site pornográfico fazer publicidade de uma forma menos agressiva, apelando a uma franja da população que pode até nunca ter ouvido falar dele.
“Em termos de números, a nossa página Insights recebe mais de 400 mil visitas por mês. A cada mês podemos ter à volta de três a cinco histórias muito populares, que têm cobertura mediática. Temos também orgulho em dizer que já fomos notícia em mais de 70 países.”
Classificação demográfica dos utilizadores do Pornhub.
“Permite às pessoas olharem para a nossa marca de uma forma diferente. Além disso, e talvez mais importante, transmite dados pertinentes relacionados com a nossa marca, assinalando as tendências de populações inteiras em todo o mundo, para que as pessoas vejam, percebam e interpretem.”
Em baixo, podemos ver a evolução do tráfego do site com origem em vários países durante a meia-final entre a Alemanha e o Brasil, que os primeiros venceram por 7-1. No final do jogo, alguns utilizadores fizeram upload do resumo do jogo para o Pornhub com variantes do título “Young Brazilians get fucked by entire German soccer team”. A empresa foi rápida a reagir e brincou na sua conta de Twitter: “Please stop uploading the game highlights to Pornhub… Our public humiliation category is full. #BrazilvsGermany”
Evolução do tráfego no site durante o jogo Alemanha 7 – 1 Brasil.
Para conseguir fazer este tipo de exercício, o Pornhub tem a trabalhar para si pessoas com perfis profissionais pouco típicos para uma empresa da indústria pornográfica, pelo menos no nosso conhecimento (limitado) da mesma. Segundo a própria organização, o site tem hoje uma equipa de quatro “data scientists”, que cruzam informação com a equipa de marketing e de design para planear os posts do Insights. No total, o Pornhub emprega 100 pessoas.
“Funcionamos como qualquer outra empresa. Fazemos anúncios e atravessamos um processo de entrevistas. Todos os que contribuem para a equipa do Insights são profissionais no seu meio.”
Este departamento de análise de dados tem à sua disposição informações sobre cerca de 50 milhões de visitantes diários. Corey Price diz que o site se esforça para dar aos visitantes “os dados mais relevantes”, apresentados “num formato profissional”. Para dar relevância e actualidade aos posts são muitas utilizados eventos internacionais como pretexto para os publicar. Outra hipótese é esclarecer quais são os hábitos de pornografia de determinado país. Os dados permitiram-lhes chegar a conclusões surpreendentes.
“Cada post da equipa de Insights é surpreendente. Eles encontram dados e estatísticas que o surpreendem. Muitas vezes, as coisas mais interessantes vêm das principais palavras pesquisadas por país. A maior parte dos países procura pelas suas próprias pessoas ou de países vizinhos. É muito interessante. O facto de algumas das pesquisas relacionadas com a família aumentarem durante o Natal (“meio irmão” ou “meia irmã”, sogra, madrasta ou filho adoptivo) é um exemplo de “insight” que nos surpreendeu.”
Pesquisas no site que mais aumentam durante o Natal.
Outra [conclusão que nos surpreendeu] é o que as mulheres querem, as palavras pesquisadas e as categorias que as mulheres vêem mais que os homens.”
Principais pesquisas feitas no site por homens e mulheres.
Quão grande é o Pornhub? Segundo os números da própria empresa, em 2014 tiveram 18,35 mil milhões de visitas. 2,1 milhões por hora. 35 mil por minuto. 584 por segundo (!). Por comparação, o Jornal de Negócios tem 200 mil visitas por dia. No ano passado, o Pornhub teve quase 80 mil milhões de visualizações de vídeos. Se calhar, esta é uma boa altura para lembrar que existem 7 mil milhões de pessoas a habitar o planeta Terra.
Os posts de Insights não são as únicas iniciativas do Porhub para chegarem a um público mais mainstream. Em Outubro de 2014, decidiram colocar um cartaz gigante em Times Square, Nova Iorque, para anunciar o site. Mais recentemente, lançaram a Wankband, ou pulseira de masturbação, que tem como objectivo acumular energia através dos movimentos do pulso. No cinema, colaboraram em 2013 com o filme “Don Jon” de Joseph Gordon-Levitt e Scarlett Johansson.
O cartaz que esteve durante alguns dias em Times Square. Fonte: The Independent
“[Essas iniciativas] fazem parte da nossa estratégia de exposição e desenvolvimento da marca. Embora essas campanhas tenham sido especialmente populares, estamos constantemente a planear campanhas adicionais e novas iniciativas para fazer publicidade ao Pornhub.”
Quem vê? E como vê?
O Pornhub Insights é especialista a escrever sobre si próprio. Quem mais (e menos) o vê? Quando o vê? De que forma o faz? Quanto tempo demora a fazê-lo? Talvez o principal exemplo seja a nacionalidade que mais visita o site. Os Estados Unidos são os líderes destacados nos acessos, seguido pelo Reino Unido e Canadá. A seguir, Índia, Alemanha e França. Portugal não aparece no top 20.
Top 20 dos países de onde veio a maior parte do tráfego do Pornhub em 2014.
E o que procuram as pessoas no ano passado? A palavra “adolescente” foi a mais pesquisada em 2014, mas foi quase apanhada por “lésbica”.
Principais pesquisas feitas em 2014 e os termos que registaram maior crescimento nesse ano.
Costuma dizer-se que a segunda-feira é o dia mais difícil da semana. É também o dia mais popular para ver pornografia. Tirem as vossas conclusões. Sexta-feira é o menos popular. Novembro e Dezembro são os meses mais concorridos.
A procura também não é a mesma durante todo o ano. Os feriados são claramente alguns dos dias com menos visitantes. No Reino Unido, o dia de Natal provoca uma queda de 30% no tráfego médio do site (curiosamente sobe 13% na Rússia). Na Suécia o tráfego cai 71% no Ano Novo (no Egipto, praticamente não há diferenças).
Grandes eventos desportivos são outros dias demau negócio para o Pornhub. O tráfego caiu cerca de 40% na Alemanha e na Argentina durante o dia da final do Campeonato do Mundo de Futebol. Por outro lado, o golpe de Estado da Tailândia, praticamente não alterou os hábitos de consumo de pornografia no país (caiu apenas 4%).
Os nepaleses são os que demoram mais tempo no site: 13 minutos e 39 segundos por cada acesso. Os residentes no Azerbaijão são os mais rápidos: 6 minutos de 26 segundos.
Tempo médio gasto no site em 2014, por nacionalidade.
Apenas 23% dos visitantes do Pornhub são mulheres. No Brasil é onde mais mulheres acedem ao site (29%), enquanto a Alemanha tem o menor rácio feminino (13%).
Tal como na indústria dos media, os acessos são cada vez mais feitos através de telemóvel e menos através do computador pessoal. No ano passado, o “mobile” ultrapassou mesmo os desktops (45% vs. 44%). Dos computadores, 83,3% usa Windows e 11,5% usa sistema operativo da Apple. Nos telemóveis, está tudo mais equilibrado: 49,9% usa Android e 40,2% usa iPhone. No que diz respeito aos browsers, o Chrome é o líder claro, representando 49,5% dos acessos.
Principal browser utilizado em 2014 por quem acede ao Pornhub.
A utilização que o Pornhub faz do conhecimento que tem sobre quem acede ao seu site é obviamente surpreendente. Mas na era do “big data” não está a fazer mais do que muitas outras empresas mais “convencionais”: aproveitar a sua gigantesca base de dados, olhar para os números, digerir interpretações e apresentá-las de uma forma visualmente apelativa. Mas se este post fosse sobre técnicas de gestão teria lido até ao fim?
*NOTA: O Pornhub diz que é o maior site pornográfico do mundo, mas dados independentes parecem concluir que já foi ultrapassado nessa categoria há alguns meses. Neste momento, deverá ser o terceiro mais visitado.
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