Matemática ou política económica: quando Roosevelt conheceu Keynes

28/06/2013
Colocado por: Nuno Aguiar

Keynes (à direita) não ficou impressionado com os conhecimentos económicos de FDR

 

Apesar de terem trocado elogios na imprensa, o economista britânico e o Presidente dos Estados Unidos não tiveram um primeiro frente-a-frente agradável. Entre as críticas mais curiosas feitas por Franklin D. Roosevelt está que John M. Keynes “deve ser matemático e não um economista político.”

 

A descrição é feita no livro “The Roosevelt I Knew”, da secretária do Trabalho de FDR, Frances Perkins, lembrada há poucos dias por Eric Rauchway, professor do Departamento de História da Universidade da Califórnia. Perkins lembra o primeiro encontro entre os dois, em 1934:

 

Roosevelt disse-me depois, “eu estive com o teu amigo Keynes. Ele despejou uma confusão de números. Deve ser matemático e não um economista político.


Era verdade que Keynes tinha apresentado uma abordagem matemática para os problemas de riqueza nacional, despesa pública e privada, poder de compra e para os principais pontos da sua fórmula. Vindo ao meu gabinete depois da entrevista com Roosevelt, Keynes repetiu a sua admiração com as decisões que Roosevelt tinha tomado, mas disse cuidadosamente que “pensava que o Presidente era mais letrado em termos económicos”. [Keynes] voltou a apontar que um dólar gasto com ajuda [à crise] era um dólar dado ao merceeiro, do merceeiro ao grossista, do grossista ao agricultor em pagamento de mercadorias. Com um dólar utilizado em ajudas, obras públicas ou qualquer outra coisa, cria-se quatro dólares de rendimento nacional.


Gostava que ele tivesse sido tão concreto com Roosevelt, em vez de o tratar como se pertencesse aos níveis mais altos de conhecimento económico.

 

Eric Rauchway lembra que FDR é normalmente referido como um Presidente com um conhecimento limitado de dossiers económicos e com uma relação difícil com números. No entanto, argumenta que essa descrição é, ela sim… muito limitada.

 

“Parece-me bastante provável que Roosevelt não ficou contente depois de conhecer Keynes, não porque não tivesse percebido os números do economista, mas porque percebeu – porque o que era matematicamente necessário não era politicamente plausível.” Isto é, era impossível para FDR avançar com a dimensão de estímulos que Keynes defendia, tendo de se contentar com uma ‘versão mini’ dessa estratégia.

 

Já Keynes, continuou a apoiar a direcção tomada com o New Deal, embora defendesse uma amplitude muito maior do investimento e tivesse passado a utilizar palavras mais duras para descrever FDR. “A dimensão, variedade e alcance da recuperação é extraordinária em termos históricos. Longe de insistir nas suas limitações é, isso sim, um milagre que não esteja a ser absolutamente terrível”, atirou numa conferência já em Inglaterra. E acrescentou: “Além de tudo isto, há ainda a personalidade estranha do presidente, a sua opinião sensível e mente flutuante.”

 

Bónus:

Rauchway lembra uma reflexão de Keynes que vale a pena ler em 2013:

 

Pode o liberalismo e a democracia sobreviver? Esse é o problema em todo o lado. A maioria dos empresários americanos tem falta de imaginação e não consegue compreender o problema que a sua sociedade está a enfrentar.

Nuno Aguiar