A resposta simples é “não”. Pelo menos segundo as conclusões do recente paper de Caroline Freund e Mélise Jaud. Calma, calma, não comece já a insultar-nos. Leia até ao fim.
As autoras, ambas do Banco Mundial, admitem que a literatura aponta duas conclusões distintas: comparações entre países mostram que não há impacto, estudos país-a-país mostram que existe uma correlação positiva. Freund e Jaud argumentam que os resultados mais positivos registados depois de uma transição para a democracia não se devem à alteração política, mas sim à própria mudança de regime. Utilizando um universo de 90 tentativas de democratização, observam que 45% são bem sucedidas, 40% falham e 15% atingem a democracia gradualmente (4 a 15 anos).
Os três cenários envolvem recessões durante o período de transição e (normalmente, entre 7 e 11 pontos percentuais do PIB) ganhos de crescimento no longo prazo. O interessante é que os casos de sucesso e falhanço seguem padrões muito semelhantes, diferenciando-se das transições graduais.
“As semelhanças dos resultados económicos entre transições bem sucedidas e falhadas é impressionante”, escrevem as autoras, acrescentando que uma explicação para esta semelhança pode estar relacionada com o facto de “ditadores que estão a ter maus resultados serem provavelmente substituídos por outros mais competentes, sejam eles autocráticos ou democráticos, pelo que é a mudança de regime que traz o crescimento e não a inclinação política”.
O factor mais importante parece ser a velocidade desta mudança. Países com períodos de transição mais rápidos, independentemente de serem bem sucedidos ou não, apresentam perdas de riqueza menos drásticas e recuperações mais velozes.
Esta correlação parece estranha até mesmo às autoras que, no entanto, avançam com uma explicação possível: “A resposta é que a maioria das transições graduais o são por omissão e não com intenção de o serem, com a transição política a decorrer de forma desajeitada, resultando numa incerteza política e de políticas elevada durante muitos anos. O que dá aos investidores, empregadores e consumidores o incentivo para esperar para ver o que vai acontecer, antes de arriscarem o seu capital.”
As autoras estão especialmente interessadas naquilo que estas conclusões significam para os países do Norte de África e do Médio Oriente, que atravessam um período de enorme instabilidade. Concluem que o pré-requisito para o crescimento parece ser a previsibilidade, “planear a direcção da transição, anunciar o caminho de antemão e percorrê-lo”.
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