Entre os 32 países da OCDE, apenas em dois será mais difícil reduzir o nível de endividamento do que em Portugal. Segundo o relatório “Recuperar as Finanças Públicas”, publicado ontem pela organização sedeada em Paris, Portugal é a terceira economia com maior necessidade de ajustamento do saldo primário para que em 2030 a sua dívida pública esteja nos 60% do PIB (limite exigido por Bruxelas).
Consolidação orçamental necessária para estabilizar ou reduzir a dívida para 60% do PIB até 2030
Fonte: OCDE
Como se pode observar no gráfico, o Japão lidera o ranking, com um ajustamento necessário do seu saldo primário equivalente a 14,1% do seu PIB potencial. Bem longe, em segundo lugar, surge a Grécia, com 9,7% e Portugal, com 8,62%. Até os Estados Unidos, cujo endividamento atinge os 16 biliões de dólares, terão mais facilidade em colocar a sua dívida num caminho sustentável do que Portugal.
No próximo ano, a dívida pública portuguesa estará nos 122% do PIB. Os Estados Unidos? 112%. O Japão?… 245%.
O indicador da OCDE pretende mostrar qual o nível de consolidação orçamental necessária para atingir dois objectivos: estabilizar a dívida e reduzi-la para 60% do PIB. No seu cenário base, a OCDE já estima uma melhoria de 0,5% ao ano do saldo primário até 2030 (1% ao ano para o Japão). Ou seja, o valor do gráfico corresponde ao ajustamento remanescente para atingir os objectivos citados anteriormente.
Ainda dentro deste tema, talvez seja relevante recordar algumas conclusões inscritas num dos capítulos do último World Economic Outlook, do FMI. Nele, é analisada a evolução do endividamento de todos os países que ultrapassaram os 100% do PIB de dívida. Algumas das conclusões:
– Esses acontecimentos são relativamente comuns. Entre 22 economias avançadas, mais de metade tiveram episódios de elevado endividamento entre 1875 e 1997.
– As dinâmicas nos 15 anos depois de se ultrapassar a barreira dos 100% são muito diversas. Em média, o rácio de dívida cai 10 pontos percentuais.
– Quando a mesma análise é feita com a barreira nos 60%, as conclusões são diferentes. Em média, a dívida tende a continuar a crescer ligeiramente.
– Quando a dívida supera os 100%, a redução exige excedentes primários.
– Economias com um endividamento superior a 100% do PIB têm um crescimento económico mais limitado que a média.
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