O sucesso da desvalorização interna irlandesa parece convencer cada vez menos gente. Ainda anteontem, Paul Krugman citava dados do FMI (reproduzidos abaixo), que punham a Irlanda em perspectiva e davam uma ideia bastante diferente da que tem sido veiculada pela troika.
Outra métrica para avaliar o sucesso de cada ajustamento externo é a evolução das exportações da economia, que calculámos com recurso à base de dados do Eurostat (valores nominais). Surpreendentemente, a Irlanda surge na cauda da lista de países que apresentamos. (Não há dados comparáveis para a Grécia, devido à morosidade com que as suas contas nacionais são publicadas.)
Isto é estranho?
Em parte, é. Fazendo justiça à sua reconhecida flexibilidade, a economia irlandesa tem conseguido reduzir salários a uma velocidade impressionante. A taxa de câmbio real, avaliada pela evolução dos custos unitários do trabalho (CUT) mostra bem os ganhos de competitividade conseguidos pela Irlanda através desta via.
Por outro lado, é expectável que a redução de salários tenha um efeito tanto maior quanto maior for o seu impacto nos preços dos bens e serviços. Se os salários mais baixos não se repercutem no custo que recai sobre o consumidor, é improvável que os exportadores de cada países consigam ganhar quota de mercado.
Ora, o Eurostat também calcula uma taxa de câmbio real avaliada com base nos preços da economia (utilizando o índice de preços do consumidor). E esta mostra uma realidade muito diferente da que é transmitida pelo gráfico anterior.
Neste gráfico, é Espanha – o país cujas exportações mais cresceram – que aparece mais bem classificado, ficando a Irlanda no pior lugar. Mesmo admitindo que há efeitos que dificultam comparações (preço das casas a cair em Espanha e a subir na Irlanda, já que a bolha imobiliária desta última rebentou mais cedo; alterações de impostos indirectos; etc.), esta comparação dá que pensar. E levanta outra questão: qual a verdadeira importância dos CUT para ganhar competitividade?
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