Hey, Germany: you got a bailout, too! é o título de um provocador artigo de opinião publicado hoje na agência Bloomberg. O artigo defende, precisamente ao contrário do que tem sido discurso comum na Alemanha (ver Hans Werner Sinn, por exemplo), que a acção do BCE durante a crise da dívida tem servido sobretudo os interesses alemães. Confuso?
Comecemos com o desequilíbrio externo da Zona Euro, que segundo vários economistas é “o” verdadeiro problema na união monetária. A acumulação de dívida externa grega (da qual a dívida pública era apenas uma parte) foi sobretudo financiada recoreendo a empréstimos da banca germânica. Segundo dados do Bank of International Settlements, a exposição da Alemanha aos PIGS chegava aos 704 mil milhões de eurosno final de 2009.
Quando o financiamento “secou”, não foram apenas os PIGS, a braços com níveis de despesa interna demasiado elevados, que ficaram com a corda na garganta. A banca germânica também entrou numa situação difícil: perante um “default” de algum destes países (e para o efeito não interessa se era do sector público ou privado), seria ela que teria de assumir perdas nos seus balanços.
Foi aqui que entrou o BCE. A autoridade monetária substituiu-se aos mercados interbancários e garantiu a liquidez necessária para que os bancos continuassem a poder operar com normalidade (ou na medida do possível, pelo menos). As operações de cedência de liquidez foram sobretudo canalizados para os PIGS e reflectem-se nos balanços TARGET2 do Eurosistema, que têm dado muito que falar no Vox (dica para os interessados: googlem Karl Whelan, Hans Werner Sinn + TARGET2). Estes balanços revelam a posição de cada país junto do sistema de bancos centrais europeus.
Autores como Hans Werner Sinn dizem que este representa um “segundo bail out” a países como a Grécia. O que outros autores – como os que assinam a peça da Bloomberg – dizem é que esta é uma forma errada de ver as coisas. Ao assumir-se como credor da banca grega, o BCE está, na prática, a permitir aos anteriores credores (sobretudo bancos alemães) desfazerem-se dos seus títulos, fugindo assim do risco. Claro que o risco passa agora para o balanço do próprio BCE, mas este é partilhado (diluído, portanto) por todos os seus accionistas: a Alemanha e todos os outros países do euro. Et Voilá!, banca alemã salva.
Germany’s changing financial exposure has major implications for its role as a leader of Europe’s response to the crisis. Before Germany’s banks pulled back their funds, they stood to lose a ton of money if Greece left the euro. Now any losses will be shared with the taxpayers of the entire euro area — particularly France, whose banks still have a lot of outstanding loans to Greece. Perhaps this is what some German officials mean when they say that the euro area is better prepared for a Greek exit.
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