Ensino vocacional – uma ajuda de curto prazo?

24/11/2011
Colocado por: Pedro Romano

O ensino vocacional, por oposição ao ensino universitário mais “clássico”, visa dotar os alunos de um ajustamento mais fácil às condições específicas do mercado laboral. Em vez de dotar os jovens de competências genéricas que terão de ser trabalhadas no local de trabalho específico, o ensino voacional promove um “fine-tuning” àquilo que é hoje requerido pelos empregadores.

 

Uma das vantagens comummente referida é a facilidade com que os mais jovens entram no mercado de trabalho. As taxas de desemprego são mais baixas, e a transição ensino/vida activa parece ser mais fácil. Contudo, segundo um estudo recente de Eric Hanushek, provavelmente a maior autoridade mundial a estudar a educação sob o “prisma” da economia, a questão pode ser mais complexa do que parece à primeira vista, porque as análises habituais não levam em conta todo o ciclo de vida dos estudantes.

 

Em General Education, Vocational Education and Labor market outcomes over the life-cycle, Hanushek, Ludger Woessmann e Lei Zhang estudam esta questão. O ponto de partida é um inquérito, organizado pela OCDE, que fornece dados acerca do tipo de escolaridade e percurso profissional ao longo da vida de cerca de 15.000 pessoas – o International Adult Literacy Survey. Os autores comparam os resultados do ensino vocacional com o ensino universitário (ou que permite o acesso à universidade), utilizando técnicas econométricas para controlar factores como o “background” familiar dos alunos.

 

Os resultados são interessantes. Hanushek e os seus colegas  confirmam a ideia generalizada de que a educação vocacional facilita a transição para o emprego, mostrando que a taxa de desemprego é habitualmente mais baixa. Contudo, à medida que o tempo passa, emerge um fenómeno diferente: quem frequentou programas de educação vocacional tem maior dificuldade em regressar ao mercado de trabalho uma vez que tenha perdido o emprego. O fenómeno parece ser comum a todos os países, embora a sua magnitude varie. 

 

A explicação provável é a perda de “adaptabilidade”, defendem os autores. Uma educação vocacional trabalha competências reconhecidamente procuradas pelo mercado, mas falha ao atribuir competências de carácter mais vasto, que facilita adaptação a contextos diferentes. Um “trade-off” entre curto e longo prazo cujo saldo líquido, defendem os autores, varia consoante os países. Um dado importante para um país, como Portugal, que vive há muitos anos em regime de “reforma educativa”.  

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