Sem Governo nem Parlamento, o País produz menos

06/04/2011
Colocado por: antoniolarguesa

Com a demissão de José Sócrates e a dissolução da Assembleia da República, não é só a produtividade dos membros do Executivo (em gestão) e dos deputados (que entram hoje ao final da tarde num período de três meses de férias forçadas) que diminui. Um estudo recente do FMI, da autoria do investigador português Francisco Veiga e de Ari Aisen, quadro da instituição, calcula as perdas económicas resultantes de uma crise política em 2,39 pontos percentuais do PIB real “per capita”. E mais de metade (52,1% a 58,4%) desse efeito nefasto sobre o crescimento é justificado pela quebra no índice de produtividade total dos factores.

 

No estudo “Como é que a instabilidade política afecta o crescimento económico?”, que cobre 169 países e períodos de cinco anos entre 1960 e 2004, os investigadores explicam que, ao aumentar a incerteza sobre o futuro, a instabilidade conduz a uma menos eficiente alocação de recursos e reduz a despesa em investigação e desenvolvimento (I&D) por parte das empresas e governos. Violência, desordem pública e greves podem também interferir com as operações das empresas e mercados, reduzir o número de horas trabalhadas e destruir alguma da capacidade produtiva instalada.

 

Além da quebra na produtividade, os efeitos da instabilidade política sobre o desempenho económico reflectem-se também na diminuição do investimento – a acumulação de capital físico é o segundo canal de transmissão, representando 22,6% a 28,7% do efeito total – e no desencorajamento da acumulação de capital humano (equivalente a 17% a 21%), sobretudo porque a incerteza pode induzir as pessoas a investirem menos em educação.

 

Entre 1960 e 2004, o horizonte temporal analisado pelo professor de Economia Pública da Universidade do Minho, Portugal enfrentou 30 substituições de governo, além de ter passado por um processo revolucionário iniciado em Abril de 1974. Na comparação com economias industrializadas, Portugal teve mais 0,28 mudanças de Executivo por ano do que a média.

 

As últimas previsões do Banco de Portugal divulgadas há dias apontam para uma recessão de 1,4% este ano. Dada a confusão política que reina em Portugal e as conclusões de Francisco Veiga e de Ari Aisen o futuro pode ser bem pior.